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Covid-19: Jornais do Alentejo enfrentam pandemia com quebras de publicidade e vendas

LUSA
15-04-2020 18:49h

As quebras na publicidade e nas vendas são as "dores de cabeça" que os jornais regionais do Alentejo "sentem" neste período de pandemia da covid-19, com um deles a suspender até a edição em papel.

“Logo de início, sofremos uma queda abrupta na publicidade, na ordem dos 70%, porque os nossos anunciantes ficaram apreensivos e com receio do que é que iria acontecer”, disse hoje à agência Lusa Paulo Piçarra, editor do Diário do Sul.

Este jornal diário sediado em Évora conseguiu “recuperar” e, agora, “a quebra de publicidade deve ser de 50%”, mas, “mesmo assim”, são distribuídos “quatro mil jornais por dia, dos quais três mil em casa de assinantes e mil em bancas" de venda, realçou.

“O risco de não haver edição em papel já está ultrapassado”, afiançou Paulo Piçarra, admitindo, contudo, que o Diário do Sul “reduziu drasticamente o número de páginas para conseguir passar por este momento mais difícil”.

João Alves e Almeida, proprietário e diretor do semanário Linhas de Elvas, no distrito de Portalegre, não esconde igualmente o efeito da quebra das receitas de publicidade para a empresa, que mantém também o jornal na Internet e nas redes sociais.

“Em termos de publicidade está catastrófico, porque, ao não estarmos sediados na capital de distrito [Portalegre], há muita publicidade que nos tem fugido. As nossas empresas financiadoras são mais locais e estão a viver uma crise muito grande devido ao vírus”, frisou.

Numa ronda efetuada pela Lusa junto de jornais dos distritos de Beja, Évora, Portalegre e do litoral alentejano para apurar os problemas causados pela pandemia da covid-19, a situação com consequências mais imediatas é a do quinzenário “O Leme”, de Vila Nova de Santo André, no concelho de Santiago do Cacém (Setúbal).

O jornal, da Paróquia de Santa Maria e que tem uma tiragem de cerca de dois mil exemplares, suspendeu este mês a sua edição em papel, por falta de colaboradores e de publicidade. O que acontece pela primeira vez em 35 anos de publicação ininterrupta, lamentou o diretor, o padre Abílio Raposo.

O quinzenário "depende, não só dos redatores, como também dos cerca de 15 a 20 colaboradores na dobragem, na colocação das cintas e no envio do jornal para o correio”, ou seja, “um trabalho de grupo impossível” neste momento, explicou.

O encerramento da tipografia e a falta de publicidade para o jornal, que tem uma equipa de dois efetivos, quatro ‘freelancers’, mais de 20 colaboradores à distância (redação) e 25 voluntários (dobragem), pesou igualmente na decisão "devido a quebras na faturação", sublinhou.

O diretor do quinzenário, com cerca de dois mil assinantes, admite que a decisão manter-se-á enquanto durar a pandemia da covid-19, com uma reavaliação da situação em maio, sendo o jornal publicado apenas em formato digital.

O proprietário do Linhas de Elvas também admite decisões difíceis. Os salários dos quatro trabalhadores e as remunerações de três ‘freelancers’ estão em dia, mas a “quebra” de faturação na ordem dos “60%” prevista para este mês, vai levar a empresa a recorrer ao “lay-off” parcial, em maio.

O jornal, que este ano assinala o seu 70.º aniversário, sente uma quebra nas vendas na ordem dos “50%”, uma vez que estão encerrados “metade” dos locais onde é comercializado, aludiu ainda João Alves e Almeida.

Quanto ao semanário Diário do Alentejo, de Beja, regista “uma quebra muito substancial do volume de faturação” devido ao decréscimo da publicidade na ordem dos “70 a 80%”, assinalou o diretor, Luís Godinho.

O responsável pelo único jornal público do país, propriedade da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, assinalou que, quanto às vendas, “há uma quebra ligeira, de cerca de 5%”, e com impacto menor: “Dois terços das vendas do jornal”, que coloca “na rua” 3.500 exemplares por semana, “são com base em assinaturas”, que “são anuais e mantêm-se”, tendo diminuído apenas as vendas em banca.

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