O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, rejeitou hoje as acusações feitas pelo Ocidente de que Moscovo usou a pandemia da covid-19 para expandir a sua influência política.
Há duas semanas, a Rússia enviou médicos militares especialistas em epidemiologia para Itália, quando a crise sanitária neste país europeu ganhou dimensões catastróficas, matando milhares de pessoas.
Lavrov disse que as sugestões feitas por alguns governos ocidentais de que a Rússia tem motivos ocultos para ajudar a Itália, um dos países mais afetados pela pandemia, a responder à crise sanitária, resultam de “russofobia”.
Numa teleconferência de imprensa, hoje, o chefe da diplomacia russa negou que a ajuda a Itália fosse um pretexto para persuadir a União Europeia a suspender as sanções contra a Rússia.
As sanções da União Europeia e dos Estados Unidos - impostas em reação à anexação russa da Crimeia, em 2014, bem como ao apoio aos movimentos separatistas na Ucrânia – limitaram o acesso da Rússia aos mercados financeiros globais e bloquearam as transferências de tecnologias ocidentais.
A Rússia respondeu às sanções proibindo as importações da maioria dos produtos agrícolas ocidentais.
Lavrov disse mesmo que Moscovo não iria pressionar a União Europeia a suspender as restrições, no âmbito da crise económica provocada pela pandemia.
“Se a União Europeia perceber que essa estratégia se esgotou e renunciar às decisões tomadas em 2014, estaremos prontos para responder da mesma forma”, acrescentou o chefe da diplomacia russa.
Lavrov também criticou os líderes ocidentais que sugeriram que a China deveria pagar uma indemnização por alegadamente não ter avisado atempadamente sobre os casos de vírus no país, relatados em dezembro.
“As alegações de que a China deve pagar pelo surto e a suposta falha em fornecer informações oportunas ultrapassam todos os limites e vão além de quaisquer normas de decência”, disse Lavrov, enfatizando que a China ofereceu assistência a muitos países.
Sem referir os Estados Unidos, o ministro russo também respondeu às críticas de Washington à Organização Mundial da Saúde (OMS), depois de, na semana passada, o Presidente Donald Trump ter acusado a agência de saúde das Nações Unidas de favorecer a China.
“Eu alertaria contra as tentativas de politizar o surto de coronavírus. E não falo apenas do papel da OMS”, disse Lavrov, acrescentando que os esforços internacionais de resposta à crise sanitária devem ser concertados.
“É importante não apontar o dedo e perceber que enfrentamos um risco comum e que só podemos lutar juntos”, acrescentou.
Lavrov disse que a Rússia mantém a disponibilidade para continuar a ajudar os países europeus, com equipamento e pessoal médicos.
O ministro recordou que, num telefonema recente, o Presidente Trump disse ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, que os Estados Unidos ofereceram igual ajuda, elogiando o gesto como “um ato de solidariedade”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 120 mil mortos e infetou mais de 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, cerca de 402 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.