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Covid-19: ONU em Angola apela ao uso de máscara para evitar propagação do vírus

LUSA
14-04-2020 15:01h

O coordenador residente das Nações Unidas em Angola defendeu hoje o uso de máscaras para a prevenção da covid-19, sobretudo nos musseques (bairros de autoconstrução) onde o distanciamento social é “difícil ou praticamente impossível”.

Paolo Balladelli falava hoje à imprensa no final da audiência com o Presidente de Angola, João Lourenço, na qual o tema central foi a pandemia do novo coronavírus e o apoio que as Nações Unidas estão a prestar ao país.

Segundo Paolo Balladelli, no encontro foi abordada a importância de alguns elementos de saúde muito estratégicos, “que deveriam ser protegidos ou acelerados” no ponto de vista das Nações Unidas.

“Faço referência ao tema das máscaras. Há muito debate em torno das máscaras, mas como perito internacional de saúde pública, assegurei ao Presidente da República que ter um obstáculo na cara, permite diminuir a carga viral, permite diminuir a exposição, mesmo que não seja uma proteção de cem por cento, entre 40% a 80% vai diminuir a probabilidade de transmitir a infeção”, referiu.

“Se pensarmos, por exemplo, em ambientes como o musseque, onde o distanciamento social é praticamente difícil ou impossível, então as máscaras poderiam fazer a diferença e complementar os esforços para o distanciamento físico”, acrescentou.

Paolo Balladelli salientou que as máscaras podem ser feitas em casa com tecidos, mas é necessário que o afastamento continue a ser implementado, sendo o uso da máscara uma medida complementar.

Relativamente à proteção do pessoal de saúde, considerou que se trata também de um elemento importante, salientando que o Presidente da República está, não só, “totalmente de acordo”, mas já a implementar.

“Os profissionais de saúde sem máscaras - foi comprovado nos países que já estão em severidade de epidemia – podem, não só adoecer eles mesmos, mas também transmitir a doença para outras pessoas sãs”, disse.

Paolo Balladelli defendeu ainda que os hospitais devem ser apenas para os doentes graves, nomeadamente com dificuldades respiratórias.

“Não adiantaria para um doente leve ir ao hospital, poderia ser para ele uma forma de se reinfetar ou ter uma sobreposição de infeção de coronavírus”, disse.

A testagem em massa, segundo Paolo Balladelli, “foi um tema muito conversado”, sublinhando que, até agora, apenas os viajantes foram testados, mas é preciso acelerar o uso dos testes.

“E, sobretudo, que todos os confirmados sejam isolados”, sendo igualmente dado seguimento aos seus contactos para depois, caso se confirme estarem também afetados, “também isolar”, referiu.

Outra preocupação relativa ao confinamento social, manifestou Paolo Balladelli, tem a ver com o aumento da violência doméstica, sendo necessário garantir maior proteção a mulheres e crianças, bem como evitar a discriminação de refugiados “porque não são eles que estão a transmitir o vírus, eles vão receber o vírus”.

Segundo o coordenador, a temperatura pode ser um elemento que não protege, mas vai mitigar um pouco a pandemia em África e em Angola.

“Sabemos que Angola, desde o ponto de vista de entrada do vírus, está mais atrasada que outros países, recentemente temos casos positivos confirmados entre viajantes, então, muito provavelmente, o período mais grave para o país vai ser em finais de abril ou começo de maio”, realçou.

Para Paolo Balladelli, é preciso que o país continue a “preparar-se com muita dedicação”, sem “poupar nenhum recurso para prevenir o alastramento em Angola”, sendo o principal foco “uma boa organização, bons mecanismos de coordenação entre todos, liderados pelo Governo, mas com a participação de todos os parceiros”.

“Sou otimista, porque estamos juntos e já foi tomada esta medida do Estado de emergência num momento precoce da epidemia em Angola, isso vai fazer com que não venhamos a ter uma situação catastrófica como tiveram outros países”, disse.

Angola regista 19 casos positivos da covid-19, dos quais dois resultaram em mortes e quatro casos de recuperação dos pacientes.

O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou hoje as 800 com mais de 15 mil casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia naquele continente.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já provocou mais de 120 mil mortes e infetou mais de 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, cerca de 402 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro de 2019, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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