Mais de metade da população mundial está sob alguma medida de isolamento e cerca de 90 por cento das crianças não estão a ter aulas nas escolas. Em Portugal, por volta de 900 mil pessoas vivem sozinhas, quase 10 por cento do total dos portugueses. Como se comunica em tempos estranhos como são estes da pandemia da Covid-19?
João Faria, psicólogo clínico e coordenador do Núcleo de Intervenção no Comportamento On-line do PIN, sublinha que, acima de tudo, mesmo em confinamento, a necessidade tão humana de comunicar, de manter-se acompanhado, mantém-se. João faria reconhece que a comunicação pelas redes pode ser um escape inicial, sobretudo nas primeiras duas semanas, em que houve uma grande avalanche e inundação de memes e outros elementos não verbais.
A pandemia da Covid-19 veio trazer duas questões muito ligadas ao existencialismo, que vêm mexer com os nossos alicerces enquanto seres. João Faria enumera que, por um lado, pensamos na morte e na sua inevitabilidade, e por outro refletimos sobre o estarmos sozinhos no Universo. A sobrecarga das redes sociais já existia antes da pandemia mas esta época única que vivemos vem trazer mais à luz um fenómeno psicológico que lhes é intrínseco, o Fear of Missing Out, o Medo de Ficar de Fora. Este fenómeno é potenciador de ansiedade mas neste momento, como estamos todos em casa, o psicólogo fala de uma acalmia da população.
João Faria acredita que o confinamento ao qual neste momento estamos sujeitos pode levar a um novo normal no que diz respeito ao regime de trabalho. Poderemos não ter que estar todos presentes em vários locais diferentes como até agora. O psicólogo dá o exemplo das teleconsultas ou consultas à distância que são feitas no PIN desde 2013.
O Canadá é um dos países que mais aposta no teletrabalho e que está mais habituado a este regime. Foi de lá que Nuno Lobo Antunes, diretor do PIN, trouxe esta ideia em 2013. João Faria explica que em 2020 já não se colocam os mesmos desafios comunicacionais de então.
João Faria dá um exemplo prático de como as gerações digitais se adaptam a estes tempos, mas sublinha que falta sempre um abraço na interação humana.
O regresso às rotinas, no pós-Covid-19, pode ser complicado, reconhece João Faria. O psicólogo descreve que na sua experiência profissional com jovens, estes não identificam um aumento de comunicação virtual, nomeadamente de videochamadas. No entanto, uma coisa é certa: todos temos saudades uns dos outros e sentimos falta de estar com as pessoas. O equilíbrio desequilibrado do tempo dedicado às redes sociais, esse sim, vai manter-se.