O primeiro-ministro, António Costa, disse hoje não perceber por que razão o festival de música TV Fest, uma iniciativa do Ministério da Cultura em parceria com a RTP cancelada no dia de estreia, foi “muito mal” recebido.
Em entrevista a Manuel Luís Goucha, no programa da TVI “Você na Tv”, o chefe de Governo assinalou que a cultura “é dos setores que têm sido mais afetados” pela pandemia de covid-19, devido ao cancelamento dos espetáculos, que afeta “não são só as grandes estrelas” como também “milhares de pessoas” que compõem uma “máquina imensa”.
Para tentar contrariar esses efeitos, “os artistas têm muito generosamente desenvolvido nas plataformas ‘online’” iniciativas para continuar a “levar a sua arte” aos portugueses, ainda que não ganhem dinheiro com isso, o que “não pode ser”, referiu o primeiro-ministro.
“Eu acho que é uma generosidade muito importante”, advogou, salientando a necessidade de “utilizar essas plataformas para gerar uma verba e uma remuneração”.
“Nós temos de dar apoio institucional a um projeto dessa natureza. O Ministério da Cultura lançou uma iniciativa em parceria com a RTP, que foi muito mal recebida, sinceramente ainda não consegui perceber porquê”, vincou António Costa.
De acordo com o primeiro-ministro, esta iniciativa, que deveria ter arrancado na quinta-feira mas foi suspensa, na sequência das dúvidas e críticas que surgiram no setor, “visava precisamente começar a multiplicar a contratação de pessoas”.
Neste momento de medidas de contenção, referiu, é que os cidadãos, a passar muito mais tempo em casa, “precisam mais até de espetáculo”.
Dando o exemplo dos teatros que estão a disponibilizar os seus espetáculos através da internet, António Costa considerou que isso “é muito generoso”.
“Não quero contrariar a generosidade de ninguém para com quem está em casa, mas é preciso também que isso não quebre o ciclo económico normal”, alertou.
Quanto ao Estado, “todos os espetáculos que tinha contratados manteve, pagou na mesma apesar de eles não estarem a ser realizados, de forma a manter o rendimento”, e muitas autarquias “têm mantido exatamente a mesma política”, na esperança de reprogramar os espetáculos.
A suspensão do TV Fest foi transmitida à agência Lusa na quinta-feira, pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, que adiantou que o modelo será repensado.
Este projeto, criado pelo Governo no quadro de apoio, no âmbito da crise causada pela pandemia da covid-19, e destinado "exclusivamente" ao setor da música, tinha estreia marcada para hoje à noite, no canal 444, nos quatro operadores de televisão por subscrição em Portugal, e na RTP Play.
Em cada programa atuariam quatro músicos. Os primeiros quatro, escolhidos pelo apresentador de televisão Júlio Isidro, foram Marisa Liz, Fernando Tordo, Rita Guerra e Ricardo Ribeiro. Estes quatro músicos convidariam outros quatro e daí em diante.
O projeto foi anunciado na terça-feira à noite pela ministra Graça Fonseca, na RTP.
Depois do anúncio, várias pessoas, entre músicos, atores e outras figuras ligadas ao setor cultural, mostraram, sobretudo através das redes sociais, a sua indignação com o projeto.
Na quarta-feira à tarde, surgia ‘online’ a petição pública “Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest”, que, menos de 24 horas depois, reunia mais de 18.600 assinaturas.
Portugal regista hoje 435 mortos associados à covid-19, mais 26 do que na quinta-feira, e 15.472 infetados (mais 1.516) indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).