SAÚDE QUE SE VÊ

Realidade virtual ajuda ao envelhecimento ativo de idosos na região Centro

LUSA
24-10-2019 17:18h

Um projeto pioneiro em Portugal, que visa o envelhecimento ativo de idosos de seis municípios da região Centro, através da inovação tecnológica com componentes de realidade virtual, foi hoje apresentado em Montemor-o-Velho, distrito de Coimbra.

Na demonstração hoje realizada do projeto VirtuALL, coordenado pela Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego (ADELO), o salão nobre do município de Montemor-o-Velho ‘transformou-se', através da realidade virtual, numa campanha das vindimas. E uma idosa cumpriu, ao longo de dois minutos, um exercício físico no qual tinha como objetivo colher o maior número de cachos de uvas e, com estas, produzir vinho.

"A dona Manuela conseguiu produzir 12,6 litros de vinho. Para a próxima, o objetivo será produzir 20 litros", anunciou, no final do exercício e perante cerca de uma centena de idosos que apoiavam e aplaudiam, uma das técnicas responsáveis pelo VirtuALL. "E beber uma pinga", respondeu, com uma gargalhada, a participante.

Antes, Emílio Torrão, presidente da Câmara de Montemor-o-Velho, tinha afirmado, na sessão de apresentação, que o projeto pretende "desassossegar" cerca de um milhar de idosos daquele município do Baixo Mondego.

"Vai fazer-vos rir, brincar e fazer exercício, também com fins terapêuticos, porque [com a idade] vão perdendo atividade e faculdades [físicas e mentais]. E a virtude destes exercícios é a de que não há desculpas [para não os fazer]", observou o autarca.

À margem da sessão, em declarações à Lusa, Emílio Torrão adiantou que o VirtuALL "é uma novidade nacional, muito disruptiva".

"Visa animar esta população sénior, mas estará aberta também a pessoas com problemas graves do foro mental que necessitem e careçam de estimulação sensorial e que este tipo de equipamentos pode proporcionar", argumentou.

Isto “é pura inovação social", complementou Emílio Torrão, frisando que o VirtuALL baseia-se numa corrente "que estuda em profundidade a realidade da área das demências no norte da Europa" e é "prática corrente" em países como a Noruega, Suécia ou Finlândia para, "através da estimulação sensorial e dinamização de exercício físico, proporcionar qualidade de vida à população mais idosa".

Embora o projeto promovido pela ADELO tenha, para já, um horizonte de funcionamento de dois anos em seis municípios da sua área de atuação (Figueira da Foz, Cantanhede, Mira, Mealhada, Montemor-o-Velho e Penacova, que se assumem como investidores sociais), a intenção de Emílio Torrão é "perpetuá-lo" para o futuro e complementá-lo com iniciativas próprias.

Para tal, Montemor-o-Velho tem em estudo a possível criação de um espaço baseado em óculos de realidade virtual "que é novidade mundial no Japão, dirigido aos jovens e que proporciona exercícios virtuais absolutamente incríveis", mas que Emílio Torrão quer direcionar aos idosos para "complementar" o VirtuALL.

No projeto em estudo, revelou, os participantes "podem visualizar imagens amigas, como os filhos, a família ou o que quiserem e através delas ajudar à recuperação da memória".

Já António Santos, diretor executivo da ADELO, explicou que o VirtuALL engloba um conjunto de equipamentos portáteis - desenvolvidos em parceria com o Instituto Superior Técnico e ainda em versão de protótipo -, que integram tecnologia já existente, nomeadamente em consolas de jogos, mas, neste caso, aplicada às necessidades efetivas da população sénior.

"Há uma plataforma que permite avaliar o equilíbrio, em que são propostos exercícios que depois resultam na demonstração da capacidade de equilíbrio frontal, posterior e lateral de cada um. E uma balança que dá um conjunto de indicadores sobre a situação física da pessoa, como a massa corporal, índice de água e metabolismo", indicou.

Outro equipamento, como o utilizado hoje na demonstração virtual da campanha das vindimas, "que é uma realidade conhecida na região", permite realizar "exercícios com caráter lúdico, que levam a que a pessoa se mexa e que, para além de se mexer, tenha uma atividade cognitiva", frisou António Santos.

"Os exercícios têm níveis de complexidade diferenciados e a possibilidade de serem executados por pessoas com mobilidade reduzida", acrescentou.

"Há portas abertas aqui para que a inclusão de facto seja uma realidade junto dos idosos, mas sempre com a preocupação que a qualidade de vida, a prevenção da doença e promoção da saúde estejam na base de todo este trabalho", enfatizou o diretor executivo da ADELO.

O projeto hoje apresentado, orçado na globalidade em 400 mil euros financiados em larga maioria pelo programa Portugal Inovação Social, será realizado nos seis municípios participantes por uma equipa de três técnicas especialistas em psicologia, fisioterapia e geografia humana.

MAIS NOTÍCIAS