A autoridade da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA) está a negociar com o Governo timorense ligações marítimas regulares entre Díli e o enclave para colmatar carências, especialmente de combustível, que já se fazem sentir, devido à covid-19.
O presidente da autoridade da RAEOA, José Luis Guterres, disse à Lusa que os produtos disponíveis estão a escassear devido ao fecho das fronteiras e à suspensão dos transportes marítimos no âmbito das medidas do estado de emergência de resposta à covid-19.
“Estamos neste momento a trabalhar com o Ministério dos Transportes, com a autoridade portuária e com uma empresa privada para tentar conseguir uma ligação, duas vezes por semana, para transporte de combustível e de carga”, disse.
Ainda que o combustível usado na central elétrica de Sakato “dure até maio”, há grandes carências de combustível para transportes, com as bombas secas e um aumento de preços na gasolina que é vendida à beira da estrada.
Residentes em Oecusse explicaram à Lusa que a única gasolina disponível, quase toda importada ilegalmente da Indonésia, é muitas vezes adulterada e vendida em postos ilegais, com o preço por litro a mais do que duplicar, dos normais 1,15 para 2,50 dólares por litro.
“Os privados estão sem combustível para circular. E isso é o mais urgente. Por isso estamos a trabalhar com Díli para resolver isto e tomar uma decisão que respeite as necessidades do povo de Oecusse”, referiu José Luis Guterres.
O último navio com carga que fez a ligação entre Díli e a capital do enclave, Pante Macassar, viajou no final de março, não havendo para já data sobre quando esse transporte pode ser retomado.
“As lojas ainda têm alguma comida, arroz e outros produtos de primeira necessidade. Ainda não há problemas de fome, mas precisamos de realmente ter pelo menos uma vez por semana um transporte de Díli para cá, porque quase tudo vem da capital”, explicou.
Nesse sentido, José Luis Guterres disse que já escreveu também ao Ministério da Solidariedade Social para solicitar que seja enviado arroz para a reserva da RAEOA.
“É um bem de consumo extremamente importante para a população e queremos fazer este reforço por precaução. De resto, felizmente, até agora ainda não existem problemas de fome ou escassez de alimentos”, afirmou.
Outra questão que está a preocupar as autoridades tem a ver com as entradas ilegais na fronteira terrestre com a Indonésia, especialmente perante os riscos de eventuais contágios de covid-19 na região, onde ainda não há qualquer caso confirmado.
“Desde o início do estado de emergência que estamos a recolher todas as pessoas que entraram ilegalmente e a levá-las para os três centros de acolhimento para poderem ser observados pelos médicos e ser acompanhados”, disse.
“O objetivo é evitar que haja casos de transmissão da doença. O pior seria essas pessoas entrarem e depois ficarem com as famílias, com um risco grande de transmissão”, afirmou.
José Luís Guterres disse que as autoridades estão a implementar medidas de higiene em vários locais, especialmente nos mercados, com pontos de água para lavagem de mãos.
“Já pedi também às obras publicas para ver como instalar água de forma permanente nos mercados. Porque fala-se em lavar as mãos, mas sem água como é possível fazer isso”, questionou.
Timor-Leste tem um caso confirmado da covid-19.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 80 mil.
Dos casos de infeção, cerca de 260 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.