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REPORTAGEM: Covid-19: A fé moçambicana que cresce nas rádios e Internet

LUSA
08-04-2020 09:30h

Rosy Queface, líder de uma igreja evangélica em Moçambique, reconhece que o novo coronavírus “paralisou o mundo”, mas diz que “a igreja não pode parar”.

Agora mais do que nunca, é preciso espalhar a fé e prevenção. Desde que foi declarado o estado de emergência no país, a 01 de abril, os cultos na sua igreja são feitos online, via Internet, através das redes sociais, contou hoje à Lusa.

Para a pastora, mais do que nunca, os crentes precisam de mensagens de fé e esperança para que se fortaleçam e para que se consiga conter a propagação da pandemia da covid-19.

“Estamos a implementar vigílias e cada família em casa tem um acompanhamento através das redes sociais. Muitas coisas pararam, mas a igreja não pode parar, não pode morrer, esse é o tempo de estar mais forte que nunca”, disse Rosy Queface, pastora de uma igreja localizada em Maputo.

Moçambique vive em estado de emergência durante todo o mês de abril com espaços de diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos, de aglomerações superiores a 20 pessoas e limitações na lotação de transportes.

As autoridades de saúde anunciaram na sexta-feira a primeira recuperação de um dos 10 casos oficiais registados de infeção pelo novo coronavírus no país e não há registo de mortos.

As manhãs de domingo na capital moçambicana, habitualmente agitadas pelo movimento de crentes, já não são as mesmas. 

As cadeiras da igreja foram substituídas pelo sofá de casa e telefone à mão para acompanhar os cultos no Facebook.

Grande parte das igrejas do país fecharam as portas e realizam os seus cultos através de redes sociais como o Facebook, whatsapp e instagram.

“Muitas coisas mudaram, desde a estrutura e horários dos cultos, por exemplo. A gente não previa isto. Estamos num processo de avaliação ainda”, comenta Janato Iussufo, também pastor de uma igreja evangélica.

Nalgumas igrejas os cultos já eram transmitidos em direto nas redes sociais, mas com a medida adotada pelo Governo, estes foram intensificados e desta vez com os membros do outro lado da tela.

“O maior desafio é ter os membros conectados, estamos num contexto em que muitos ainda não têm acesso à tecnologia”, desabafa Janato.

Além de redes sociais, os cultos são transmitidos através da rádio e as congregações fazem chamadas telefónicas e enviam mensagens diariamente aos membros que não conseguem ter acesso.

“Como não podemos ir às missas nas paróquias, agora são feitas a partir da Sé Catedral e acompanhamos de casa”, conta Térica Vilanculo, membro de uma congregação católica.

“A missa sempre existiu e era curta, mas agora aumentou-se o tempo e todas passam na rádio, o que não acontecia antes da doença”, acrescentou Arnaldo Rihiua.

Rosy Queface considera que o contacto contínuo com os membros da igreja também pode contribuir para o cumprimento das medidas recomendadas pelas autoridades de saúde, pois os líderes religiosos têm alguma influência sobre os mesmos.

“Se um líder diz 'fiquem em casa', as pessoas vão obedecer e se o líder diz 'saiam, não tenham medo porque não vos vai acontecer nada', as pessoas saem”, comenta a pastora.

Com os cultos, também mudou a forma de cumprir alguns mandamentos bíblicos. As igrejas em Maputo disponibilizam contas bancárias e mpesa (serviço financeiro móvel de muita adesão em Moçambique) para a deposição de dízimos e ofertas.

“Cada família indicará um coletor que será responsável por levantar e canalizar as ofertas e dízimos à tesouraria da igreja local ou por depósito”, lê-se num documento de uma igreja evangélica, enviado à Lusa.

Apesar da mudança na forma de fazer os cultos em Maputo, o pastor Janato garante que o número de pessoas que assistem online é “quase o mesmo e às vezes superior aos cultos presenciais”.

“Normalmente tínhamos na igreja uma média de 1000 pessoas no culto e em formato online a presença tem sido notável também”, comenta Janato Iussufo.

Em Moçambique, estão registados dez casos de infeções.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 80 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 260 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu, com cerca de 735 mil infetados e mais de 57 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, contabilizando 17.127 óbitos em 135.586 casos confirmados hoje.

A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, registando 13.798 mortos, entre 140.510 casos de infeção confirmados até hoje, enquanto os Estados Unidos, com 12.021 mortos, são o que contabiliza mais infetados (382.256).

A China, sem contar com os territórios de Hong Kong e Macau, conta com 81.740 casos e regista 3.331 mortes. As autoridades chinesas anunciaram hoje 32 novos casos, todos oriundos do exterior, e pela primeira vez desde janeiro não reportou mortes.

Além de Itália, Espanha, Estados Unidos e China, os países mais afetados são França, com 10.328 mortos (78.167 casos), Reino Unido, 6.159 mortos (55.242 casos), Irão, com 3.603 mortos (58.226 casos), e Alemanha, com 1.607 mortes (99.225 casos).

O número de mortes devido à covid-19 em África subiu para 487, num universo 10.075 casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia no continente.

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