Idosos e funcionários de muitas instituições de solidariedade social do distrito de Lisboa ainda não fizeram testes de despistagem à covid-19 e a falta de equipamento de proteção é dramática, alertou o presidente da União das IPSS de Lisboa.
Em declarações hoje à Lusa, o presidente da União Distrital das IPSS de Lisboa, João Carlos Batalha, relatou que a sua instituição na Azambuja, o Centro Paroquial e Social, foi contactada há cerca de uma semana pelo centro de saúde local com questões sobre o número de utentes e funcionários, mas até ao momento não tiveram qualquer outra informação: “rigorosamente nada”, disse.
“O ‘feedback’ que tenho das instituições do distrito de Lisboa é muito semelhante: têm sido muitos os dirigentes das instituições que dizem que têm ouvido na comunicação social que os testes vão começar para Lisboa, que já ouviram isso há algum tempo. O que é verdade é que, na prática, eles ainda não receberam testes absolutamente nenhuns e também equipamentos de proteção individual a mesma coisa, não têm”, relatou.
E, acrescentou, mesmo que as instituições tentem comprar equipamentos de proteção individual, não conseguem, porque “os preços do mercado estão absolutamente proibitivos”, sobretudo das máscaras.
“Temos tido pedidos de instituições, dramáticos, a dizer 'já não temos, como é que vamos fazer?’”, afirmou o responsável.
A solução de último recurso tem sido as instituições fazerem as suas próprias máscaras.
“Estamos a pôr os nossos idosos, como atividade, no próprio lar, a fazer máscaras de pano que vamos usando porque efetivamente não há”, contou, admitindo que funcionários já se recusaram a fazer serviços de apoio domiciliário ou nos lares porque não têm máscaras.
“E nós, enquanto dirigentes das instituições não podemos, nem devemos, deixar que os nossos funcionários façam isto sem eles se protegerem. Está a ser um problema muito sério em todas as instituições”, salientou.
Ainda em relação à situação dos funcionários, João Carlos Batalha alertou que as pessoas continuam a ir para casa, a entrar e sair das instituições e, “mesmo tomando todas as precauções”, existem sempre riscos.
Como exemplo, o presidente da União Distrital das IPSS de Lisboa contou que na sua instituição na Azambuja foi criada uma “zona de descontaminação”, onde os funcionários mudam de roupa, tomam banho e medem a temperatura.
Contudo, disse, é um lar com 30 camas, onde todos os dias as equipas entram e saem e, “mesmo tomando todas as precauções”, há sempre risco.
Por isso, do ponto de vista da prevenção, “era fundamental” que se fizessem testes de despistagem não só aos utentes, como aos funcionários das instituições, que são “extraordinários” e um suporte de solidariedade “fantástico de apoio” aos utentes.
João Carlos Batalha deixou ainda um alerta sobre o futuro, lembrando que, já num passado muito recente, as instituições de solidariedade social “foram a grande almofada social do país”.
“Avizinha-se um período difícil e o que nós pedimos também ao Estado é que não deixe cair as instituições de solidariedade social, todo o apoio que o Estado nos dê é absolutamente fundamental, precisamos do apoio para prevenir, precisamos do apoio para manter a situação, para nos mantermos no terreno e para, sobretudo, podermos garantir o apoio futuro, para o futuro que aí vem”, disse.
Um futuro que é também “já um futuro presente”: “É neste presente histórico que era preciso que olhassem para as instituições de solidariedade social, para as misericórdias, para todos os que estão ao serviço das comunidades neste serviço de bem fazer. Precisamos de fazer este bem, mas bem feito e para isso precisamos de ter os recursos”, insistiu.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 75 mil. Dos casos de infeção, cerca de 290 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 345 mortes, mais 34 do que na véspera (+10,9%), e 12.442 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 712 em relação a segunda-feira (+6%).
Dos infetados, 1.180 estão internados, 271 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 184 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.