Cientistas ligados ao governo norte-americano acreditam que o novo coronavírus provavelmente é transmitido pelas pessoas quando falam e respiram, uma avaliação que leva à conclusão que usar máscaras ou lenços pode minimizar a propagação.
A administração do presidente Donald Trump está prestes a mudar suas instruções oficiais para incentivar, mas eventualmente não obrigar, a população a cobrir os rostos em público, com máscaras artesanais, lenços ou trapos, por forma também a reservar as máscaras médicas aos profissionais de saúde, pois a escassez deste material assim o exige.
Em Nova Iorque, o `mayor´ pediu na quinta-feira aos residentes na cidade que cobrissem o rosto quando saíssem à rua e, hoje, quase metade dos transeuntes em Manhattan já estava a aplicar a medida sugerida, segundo a observação de jornalistas da AFP.
Em relação à Ásia, onde a utilização das máscaras cirúrgicas é regra omnipresente para a população, o atraso nos países ocidentais é entendido por alguns especialistas como uma "aberração".
Contudo, autoridades de saúde nos Estados Unidos ou na França, assim como a Organização Mundial da Saúde (OMS), argumentaram até agora que a máscara não é necessária para pessoas saudáveis, a menos que estejam em contacto com os doentes infetados pelo vírus.
Na França, a Academia de Medicina recomendou hoje o uso obrigatório da máscara, como uma "adição lógica às medidas de barreira".
Hoje, nos Estados Unidos, o diretor do Instituto de Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, membro do grupo de trabalho da Casa Branca sobre o coronavírus e que todos os dias fala à distância com o presidente Trump, reconheceu que "o vírus pode realmente ser transmitido quando as pessoas estão apenas a conversar, e não unicamente quando espirram ou tossem".
Esta transmissão aérea permitiria uma explicação há muito procurada para alta contagiosidade do vírus responsável pela pandemia do Covid-19, quando surgem indícios de que pessoas infetadas, mas sem sintomas, são responsáveis por cerca de 1/4 de todos os cidadãos infetados, sendo por isso responsáveis involuntariamente por grande parte dos contágios.
Vários estudos mostraram que pessoas assintomáticas infetaram pessoas próximas que com elas estiveram em igrejas, num coro, em aulas de canto ou em casas de repouso. As Academias de Ciências norte-americanas aludiram em carta dirigida hoje à Casa Branca quatro estudos que apontam a balança a favor da transmissão do vírus pelo ar expirado pelas pessoas (aerossóis no jargão científico), e não apenas pelas gotículas projetadas durante um espirro diretamente no rosto de outra pessoa ou em superfícies (onde o vírus pode sobreviver por horas ou até dias).
"A pesquisa atualmente disponível apoia a possibilidade de que o SARS-CoV-2 possa ser transmitido por aerossóis gerados diretamente pela expiração de pacientes", escreve Harvey Fineberg, presidente do Comité de Doenças Infecciosas Emergentes.
Paralelamente, um estudo de investigadores da Universidade de Nebraska encontraram partes do código genético do vírus (RNA) no ar de salas onde os pacientes foram isolados.
Investigadores da Universidade de Hong Kong concluiram recentemente que o uso de máscaras reduz a quantidade de coronavírus exalado pelos pacientes, sendo que a experiência foi realizado com outros vírus além do SARS-CoV-2.
Também investigadores de Wuhan colheram amostras de ar de vários quartos de hospital e encontraram altas concentrações do novo coronavírus, especialmente nos banheiros e salas onde os profissionais de saúde retiravam os seus equipamentos de proteção.
À luz desses resultados, a mudança oficial da estratégia neste domínio nos Estados Unidos é iminente, segundo o vice-presidente Mike Pence, faltando conhecer a sua formulação, com Donald Trump a adiantar que acha que a medida não deve ser obrigatória.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 57 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a OMS a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com cerca de 587 mil infetados e quase 42 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, 14.681 óbitos em 119.827 casos confirmados até hoje.
A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, registando 10.935, entre 117.710 casos de infeção confirmados até hoje, enquanto os Estados Unidos, com 6.699 mortos, são o que contabiliza mais infetados (261.438).
Em Portugal, que está em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 17 de abril, registaram-se 246 mortes e 9.886 casos de infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS).