O movimento Somos Coimbra (SC) disse hoje não conseguir “compreender a obstinação” da Câmara “em fazer reuniões presenciais”, a propósito da sessão extraordinária do executivo municipal agendada para terça-feira.
O SC apresentou hoje, por isso, um “requerimento para realização em modo não presencial” daquela reunião extraordinária, informa o movimento, que está representado na Câmara por dois vereadores (o executivo é composto por 11 eleitos), numa nota enviada à agência Lusa.
Já em relação à sessão do executivo camarário, realizada em 23 de março, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, para, de acordo com a Câmara, garantir a distância social entre os participantes, o movimento se tinha manifestado contra essa reunião, face à pandemia da covid-19, e à qual os vereadores do SC não compareceram.
“Montar uma reunião por videoconferência é uma tarefa de minutos para praticamente qualquer adolescente”, sustenta o movimento, no requerimento remetido ao presidente da Câmara, considerando que “é necessário apenas dispor de um normal computador pessoal, sem necessidade de qualquer assistência técnica especializada”.
No documento, o movimento afirma que “é triste ver que câmaras municipais com meios bem mais limitados do que Coimbra souberam resolver com ligeireza as simples questões técnicas associadas e já estão a ter reuniões por videoconferência”.
Depois de apontar exemplos de autarquias que optaram por aquela solução, o SC lamenta que Coimbra, sob a liderança de Manuel Machado “e pela mão desta coligação PS-PCP que a governa”, pareça “querer afirmar-se como uma cidade do século passado, feliz a disputar o campeonato dos últimos e a envergonhar” a cidade.
No mesmo requerimento, o movimento destaca “a perigosidade e contagiosidade do vírus SARS-CoV-2 e o aumento do número de infetados, de ventilados e de mortos”.
“Um dos vereadores do SC [José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos] é médico numa enfermaria de medicina interna dos HUC/CHUC [Hospitais da Universidade de Coimbra/Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra], onde já passaram doentes que acusaram positividade ao SARS-CoV-2”, afirma o SC, sustentando que “essa enfermaria vai aumentar o seu nível de risco com a transferência de doentes do Hospital dos Covões [integrado no CHUC] com queixas respiratórias, pois embora tenham teste negativo, como os testes atuais dão 30% de falsos negativos, parte deles serão positivos reais”.
O risco de “o próprio vereador estar, ou vir a estar, infetado, é elevado”, alerta o SC, referindo que a sua outra representante no executivo camarário, Ana Bastos, “tem de prestar assistência a pessoas da geração anterior à sua”.
O SC apela, assim, ao presidente da Câmara de Coimbra que “providencie os meios necessários para que, pelo menos”, os seus dois vereadores possam “participar na reunião do executivo da Câmara de 07 de Abril de 2020 [terça-feira] por meios à distância, pois a situação de saúde pública vai continuar a deteriorar-se nas próximas semanas”.
Como é sabido, “duas outras vereadoras [eleitas pela coligação PSD/CDS/PPM/MPT] já não estiveram presentes na reunião anterior por razões de índole similar, e portanto, tudo indica, também não estarão na próxima”, salienta ainda o movimento, considerando que, “ao não criar condições para que um número tão elevado de vereadores participe nas reuniões”, Manuel Machado está, “na prática, a furtar-se ao escrutínio público e a suspender a democracia na Câmara de Coimbra”.
Em Portugal, segundo o balanço da pandemia da covid-19 feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 246 mortes, mais 37 do que na véspera (+17,7%), e 9.886 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 852 em relação a quinta-feira (+9,4%).
Dos infetados, 1.058 estão internados, 245 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 68 doentes que já recuperaram.