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Covid-19: ICIJ alerta para “ameaça iminente” sobre parceiros africanos

01-04-2020 22:02h

O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) alertou hoje para a falta de recursos no combate à pandemia de covid-19 em África, que poderá ter consequências mais gravosas do que as registadas na Europa e na América.

“A epidemia de coronavírus que se espalha pela Europa e pela América do Norte tem exposto falhas de planeamento e fragilidades de sistemas de saúde normalmente considerados como os melhores do mundo. Em grande parte de África, em países com muito menos recursos, as consequências desta pandemia viral podem ser muito, muito piores”, refere o ICIJ num comunicado hoje divulgado pela organização.

O consórcio cita o repórter senegalês Momar Niang, que refere que “um ‘tsunami’ de pacientes seria fatal para o Senegal”.

Niang é um dos vários jornalistas parceiros do ICIJ que denotou a falta de preparação dos serviços nacionais de saúde para a pandemia de covid-19. Tal como ele, também Mohamed Kabba, da Serra Leoa, e Tatenda Prosper Chitagu, do Zimbabué, acreditam que os seus países não têm capacidade para enfrentar o novo coronavírus.

Segundo Momar Niang, o Senegal não dispõe de hospitais suficientes, e a maioria dos poucos que têm a capacidade de tratar os pacientes com sintomas mais graves está concentrada na capital senegalesa, Dakar.

O jornalista senegalês refere que o seu trabalho tem sido dificultado, estando ele e os seus colegas limitados a realizar entrevistas por telefone ou email.

“É quase impossível, porque a imprensa está estreitamente proibida de entrar em centros onde os pacientes estão isolados”, afirmou Niang.

O Senegal conta atualmente 190 casos de infeção pelo novo coronavírus, que já provocou uma morte no país da África Ocidental, segundo o Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (África CDC).

A Serra Leoa, de Mohamed Kabba, registou recentemente o seu primeiro caso, sendo que ainda está a recuperar da epidemia de Ébola que entre 2014 e 2015 matou mais de 3.500 pessoas.

Kabba refere que o Governo do seu país agiu cedo, tendo começado, no início de fevereiro, a requerer a viajantes oriundos de países com mais de 50 casos de infeção que realizassem um período de quarentena quando chegasse ao país.

Ainda assim, o jornalista teme que o sistema sanitário da Serra Leoa não esteja preparado para um aumento dos casos, uma vez que a maioria dos hospitais não tem capacidade para receber infetados com a covid-19.

Além disso, Mohamed Kabba acusa o Governo de “falta de transparência” sobre os gastos associados ao combate à pandemia.

Já o zimbabueano Tatenda Prosper Chitagu critica um “serviço de saúde em ruínas”.

“O primeiro centro de isolamento do país, em Harare [capital do Zimbabué], não tem ventiladores, oxigénio, água corrente ou sequer uma tomada funcional”, apontou.

O jornalista acrescentou que os enfermeiros não têm roupas que garantam a proteção e que os hospitais não têm medicamentos.

“Se houver muita gente diagnosticada com a doença, os nossos hospitais vão ficar sobrelotados”, vincou.

Chitagu abordou também a falta de equipamento de proteção para os jornalistas.

“Muitos estão a manter a distância, prejudicando o acesso da nação à informação sobre a doença”, disse, acrescentando: “por agora, muitos adotaram a postura de ‘não vale a pena morrer por alguma história’”.

De acordo com o África CDC, o Zimbabué conta agora com oito casos de infeção, dos quais resultou um morto, tratando-se precisamente de um jornalista: Zororo Makamba, que, aos 30 anos, era também apresentador de televisão e rádio.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 905 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 46 mil.

Dos casos de infeção, pelo menos 176.500 são considerados curados.

Segundo os dados do África CDC, o número de casos de infeção desde o início da pandemia ultrapassa os 5.900, dos quais pelo menos 209 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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