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Covid-19: Ativista contra detenção no Uganda de 20 membros LGBT por não cumprirem isolamento

LUSA
01-04-2020 17:38h

Um líder dos direitos gay no Uganda disse hoje que 20 membros da comunidade LGBT local foram detidos, após a polícia ter invadido um abrigo onde se encontravam e os acusar de violarem medidas de isolamento social.

"É evidente que eles foram presos por causa da sua homossexualidade", afirmou Frank Mugisha, manifestando preocupações relativamente à segurança daquelas pessoas dado que "alguns deles estão sob medicação contra a AIDS [sida]".

A homossexualidade é criminalizada no Uganda.

Mugisha disse que os 20 detidos faziam parte de um grupo de 23 pessoas acusadas de violar as ordens do Presidente do país, na sequência de uma rusga policial no domingo. Três já foram libertados por causa de problemas de saúde, adiantou.

Mugisha referiu que a casa que foi alvo de buscas da polícia fica em Kyengera, uma cidade perto de Kampala, a capital do país, e é um abrigo conhecido para pessoas LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) que procuram a comunidade, bem como tratamento para a sida.

O ativista afirmou que a casa já foi alvo de outras ações da polícia.

Contactado, o porta-voz da polícia não respondeu até ao momento ao pedido de um comentário sobre a situação.

A polícia ugandesa está a aplicar as medidas impostas pelo Presidente Yoweri Museveni para controlar e impedir a propagação da pandemia de covid-19.

Até agora, este país da África Oriental registou oficialmente 44 casos de infeção pelo novo coronavírus, a maioria dos quais importados.

Mugisha disse que ataques a homossexuais muitas vezes não são relatados no Uganda, e advertiu que crimes de ódio contra estas pessoas podem aumentar num contexto de medidas de combate à pandemia.

Nos últimos anos, houve alguma movimentação no Uganda para que se decretassem penas mais severas para os homossexuais, incluindo a pena de morte por enforcamento.

Isto porque muitos ugandenses acreditam que a homossexualidade é importada do Ocidente.

Porém, uma lei anti gay, promulgada em 2014 foi posteriormente anulada por um conselho de juízes depois de pressões internacionais nesse sentido e ameaças de cortes na ajuda ao país.

Ao promulgar essa lei, o Presidente Yoweri Museveni acusou "grupos ocidentais arrogantes e descuidados", sem citar nomes, de tentarem recrutar crianças ugandenses para a homossexualidade.

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, 32 nações africanas têm várias leis que criminalizam a homossexualidade.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 866 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 43 mil.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O número de mortes em África subiu para pelo menos 196, num universo de mais de 5.700 casos confirmados em 49 países, de acordo com as estatísticas sobre a doença no continente.

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