SAÚDE QUE SE VÊ

Angola com apenas 18 médicos legistas que são "insuficientes" para responder a suicídios

LUSA
11-10-2019 11:01h

Angola conta apenas com 18 médicos legistas, um em cada província, "insuficientes" para responder a ocorrências como os suicídios, que as autoridades admitem que sejam mais em relação aos 2.500 registados nos últimos cinco anos, foi anunciado quinta-feira.

"Estamos a falar de um médico legista, que são médicos para fazer a perícia e concluir a causa da morte, e estamos a falar de um médico por província, e com certeza um médico por província não responde àquela que é a demanda que vai surgindo", afirmou hoje Massoxi Vigário, coordenadora nacional do Programa de Saúde Mental e Abuso de Substâncias de Angola.

A psicóloga clínica admitiu igualmente que os suicídios registados nos últimos cinco anos no país "podem não refletir a realidade" porque, explicou, "nem todo suicídio é declarado pela família ou comunidade".

Segundo a responsável, "existem inclusive comunidades que se protegem quando se fala que alguém morreu" e, no entanto, observou, há “comunidades em que se verifica em menos de um ano a morte de duas, três ou mais pessoas por suicídio".

"Logo pensar que 2.500 é um número real ou não, temos um problema a nível nacional, nós não temos um sistema de tratamento de dados muito atuante, logo há números que ficam sempre de fora e temos de considerar que o número não é apenas esse e pode ser vezes dois ou três", apontou.

A especialista, que falava em Luanda, à margem de uma cerimónia no âmbito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala hoje, acrescentou: "Por muito que seja assustador pensarmos em 2.500 pessoas pode ser ainda mais assustador pensarmos que o número é ainda superior e devemos de facto nos preocupar com isso".

O Programa de Saúde Mental e Abuso de Substâncias, em colaboração com o departamento de medicina legal do Serviço de Investigação Criminal (SIC) angolano, deve concluir ainda esta semana as "estatísticas mais recentes" sobre suicídios em Angola.

Massoxi Vigário lamentou ainda a carência de médicos e técnicos de saúde para darem sustentabilidade à Rede Integrada de Serviços de Saúde Mental que, há sete anos, compreende apenas as províncias de Cabinda, Luanda, Malanje, Benguela, Huambo, Huíla e Cunene.

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