SAÚDE QUE SE VÊ

A MARIA INÊS FAZ ANOS

Hoje devia ser um dia daqueles mesmo felizes. Com beijinhos e abraços, uma recepção calorosa na escola, os parabéns cantados na primeira aula do dia. Hoje, devias ter direito a tudo: a familia reunida, as pazes com os primos mais novos, os embrulhos rasgados à pressa, o jantar a uma mesa cheia. Seria o dia de receber as sapatilhas prometidas e a roupa para vestir no próximo fim de semana, quando os amigos se juntassem para comer fast food antes da sessão da tarde, no cinema.

Mas hoje, neste mundo que pede recolhimento e cuidado, a efeméride que é o teu aniversário, esbate-se no confinamento da tua casa. Fazes 14 anos. E em nenhum, dos muitos planos que traçaste para este dia, jamais imaginaste que estarias privada do que é teu por direito absoluto.

Terás, apenas, o pai e a mãe. E os muitos telefonemas, mensagens com fotos nas redes sociais e videochamadas. É bom, mas não é a mesma coisa. Sei que estás triste. É normal. Compreensível. Ninguém te leva a mal.

Mas pensa assim: no verão, quando estivermos todos juntos a lanchar ao sol, vamos rir-nos da chamada via Skype que fizémos todos amontoados, para cabermos todos no écrã. Da vela minuscula que se derreteu nos dedos enquanto entoávamos os parabéns com cotoveladas, para ganharmos espaço. Do D. que a apagou antes do tempo e que nos fez recomeçar tudo. Pensa no exemplo da chama, que se apagou e voltou a acender. O mesmo se passa connosco. Iremos recomeçar. Com a certeza de que ultrapassámos o que nenhum de nos previa ou imaginava, sequer.

Vamos ficar bem.
Temo-nos uns aos outros.
O amor não fica de quarentena.
Parabéns, Maria Inês.