SAÚDE QUE SE VÊ

QUARENTENA COM QUATRO

Deixei passar o fim de semana. Foi para descansar. À excepção de trocar todas as roupas de cama, lavar tudo como se não houvesse amanhã, de desinfectar puxadores, comandos, telemóveis e computadores, pouco fiz.

Não fui a correr ao supermercado. Tentei entreter as crianças e aliviar-lhes o medo. Um dos gatos fugiu para a rua e não fui procurá-lo, preferi, antes, que me acordasse num miar estridente às tantas da madrugada.

Reuni todos e comuniquei-lhes que, a partir de segunda, haveria horários e tarefas para todos. Elaborei uma lista perfeita que, hoje, não coloquei em prática e que me pareceu demasiado cansativa porque, ao fim de 3 dias em casa, no primeiro oficial da quarentena, já estou exausta.

Somos 6. E dois gatos. Dois adultos e quatro crianças com idades entre os 5 e os 13 anos. E digo-vos, isto não é nada fácil e dou por mim a pensar quanto tempo aguentarei. Se já estou assim, quando isto ainda mal começou, questiono-me como acabarei quando tudo isto passar.

A casa acordou à hora do costume: 7:30 da manhã e já se ouviam passos que, confesso, tentei ignorar. Impossível. Entre o xixi fora da sanita de um, do barulho das mensagens em barda do telemóvel de outra e dos jogos online dos outros, de intercomunicadores postos a jogar com outros madrugadores noutras casas, houve de tudo. Terminou com o pequeno almoço com pedidos especiais e com planos inocentes, de quem ainda não se apercebeu da realidade, que, entre outros delirios, metiam idas ao parque ou jogar à bola na rua.

Não. Ninguém disse que isto ia ser fácil. Nem que estávamos preparados para isto. Eu não estou.

Tirei carne para o almoço a contar com o jantar. Apanhei a roupa do estendal e voltei à carga com as lavagens. Pisei um bloco de Lego. E fiambre. Arrumei a sala duas vezes. Obriguei os rapazes a apanhar uma taça de pipocas que deixaram cair entre o sofá e o chão. O gato voltou a fugir. Recebi as indicações da escola com tarefas para todos. Fui buscar um jogo de tabuleiro que ainda não jogámos. Acabou-se a sopa e meti na panela os frescos que ainda haviam no frigorífico. Amanhã terei de sair para o último sitio onde queria estar: o supermercado.
Falo com os pais, sogros e amigos. Todos fechados como nós. Todos bem de saúde mas com um medo estranho que nos assola a todos.

Mandei todos para o banho. Espero que o dia acabe depressa. Já mereço o sono dos justos. Amanhã, começo a lista. A vida tem de voltar a ser posta no lugar. Com ou sem quarentena.