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Covid-19: Nem um centímetro de distanciamento nos 'semicoletivos' moçambicanos

LUSA
31-03-2020 09:04h

A desinfeção das mãos com água e cloro à porta dos transportes públicos passou a ser obrigatória nos terminais rodoviários em Chimoio, centro de Moçambique, mas a sobrelotação é um cocktail fértil para a transmissão do novo coronavírus.

Os 'semicoletivos' - veículos ligeiros de passageiros apinhados de gente - são o transporte privilegiado para circular pelas capitais provinciais, todos os dias.

“O número é um pouco complicado”, disse à Lusa Mendes Miquitaio, um transportador local, defendendo que a sobrelotação é um mal necessário para suportar as despesas de operação.

O transportador reconhece que a medida de desinfetar as mãos nos terminais é ineficaz, sobretudo para os carros que levam mais passageiros e sugere que, o ideal, era as autoridades pulverizarem as viaturas.

Baldes de plástico com torneiras improvisadas foram distribuídos pelas autoridades pelos terminais rodoviários das rotas urbanas, interdistritais e interprovinciais, mas por vezes não têm água, nem cloro.

“Há passageiros que se recusam a lavar as mãos, dizendo que têm os seus próprios desinfetantes", conta Farai Francisco, um angariador de passageiros.

"Nós obrigamo-los a descer do carro e só sobem depois de lavar as mãos” acrescentou.

Auria Páscoa fica espantada quando repara que viaja com outras 19 pessoas numa carrinha com lotação recomendada de 15.

Não haverá sequer um centímetro de distância, quanto mais um metro de distanciamento social recomendado pelas autoridades de saúde para prevenir a transmissão do novo coronavírus.

“Sinto-me mal, mas não há como [fazer de outra forma], porque preciso de viajar”, diz à Lusa, visivelmente desconfortável, já dentro do 'semicoletivo', encostada a outros quatro passageiros.

Aida da Conceição, outra passageira, diz que as condições são "das piores".

“Mandam-nos lavar as mãos, mas depois temos de seguir em bancos estragados", num espaço em que "os vidros não abrem".

Segundo refere, estas condições mostram como “o país não está preparado para enfrentar a doença”.

Moçambique tem oito casos registados da covid-19, seis importados e dois por transmissão local, sem mortes.

O número de mortes em África subiu para pelo menos 152, com 4.871 infetados acumulados em 46 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia divulgadas pelo Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças (CDC) da União Africana.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 750 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 36 mil.

Dos casos de infeção, pelo menos 148.500 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu, com mais de 413 mil infetados e mais de 26.500 mortos, é aquele onde se regista atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 11.591 mortos em 101.739 casos confirmados até hoje.

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