Os diretores das escolas estão a enviar esta semana para os serviços do Ministério da Educação informações sobre os alunos sem acesso à internet ou computador e acreditam que o terceiro período começará com menos estudantes excluídos.
Desde que o Governo decidiu encerrar as escolas e manter o ensino à distância (desde 16 de março), devido à disseminação do novo coronavírus, que pais e professores têm alertado para os casos de alunos que não conseguem acompanhar as aulas porque não têm internet ou computador em casa.
Na semana passada, o presidente da Associação Nacional de Diretores e Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, apelou ao Ministério da Economia e da Transição Digital que garantisse as condições para que nenhum aluno ficasse excluído, lembrando que as escolas tinham o levantamento de quem precisava de internet ou computador.
“Estamos à espera que o Ministério da Economia nos venha pedir estes números”, sublinhou na altura Filinto Lima em declarações à Lusa.
A Lusa questionou hoje Filinto Lima e Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), sobre se tinham sido contactados e ambos confirmaram que esse trabalho já está a ser feito.
“O Ministério da Educação está a fazer esse levantamento. Estão a pedir às escolas para que, durante esta semana, entreguem esses dados. Mas lembramos que é muito importante que se passe da teoria à prática”, afirmou Filinto Lima.
Manuel Pereira também confirmou à Lusa esta informação e saudou a iniciativa do Ministério da Educação de “querer ter um conhecimento muito claro da realidade, já que por vezes as percentagens escondem realidades muito diversas”.
Os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, relativos a 2019, indicam que 5% das famílias com estudantes até aos 15 anos não têm internet em casa.
Manuel Pereira lembrou que haverá zonas “no litoral, onde mais de 99% dos alunos têm internet e depois existem zonas do interior onde a percentagem dispara”.
Filinto Lima voltou hoje a defender que “o digital não é um luxo, mas sim uma necessidade” e que é preciso dotar as casas com internet e equipamentos para que os alunos consigam acompanhar as aulas.
Os dois representantes dos diretores salientaram ainda que todas as medidas adicionais que sejam postas em prática serão benéficas para os alunos e acreditam que no 3.º período, que começa dentro de duas semanas, haverá muito menos alunos excluídos.
Segundo Filinto Lima e Manuel Pereira tem havido um envolvimento de toda a comunidade para tentar reduzir as desigualdades sociais.
“Há autarquias, juntas de freguesia, associações e até escolas que estão a ceder os seus computadores para emprestar aos alunos”, lembrou Filinto Lima, que acredita que “o 3.º período vai começar com menos constrangimentos”.
Nas últimas duas semanas de aulas antes das férias da Páscoa, que começaram hoje, “houve alunos que foram contactados pelo telefone fixo”, acrescentou Manuel Pereira.
O Ministro da Economia avançou este fim-de-semana com a hipótese do regresso de usar os canais "Youtube" e a "TVCabo" para ensinar os alunos que estão em casa.
Hoje, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, apontou como solução mais provável o uso dos canais de sinal aberto, até porque chegam a muito mais famílias.
“Todos os meios são bons para tentarmos chegar a mais alunos, mas se nem todos têm internet, ainda são menos os que têm TVcabo, alertou Filinto Lima, referindo-se à proposta do ministro da Economia, que “deixa 17% dos portugueses de fora”.
Também Manuel Pereira considera mais plausível usar os canais de sinal aberto, como a RTP2 ou o Canal Parlamento, para voltar a ter uma espécie de Teleescola.
Os primeiros casos confirmados da covid-19 em Portugal foram registados a 02 de março, e o país encontra-se em estado de emergência desde 19 de março até 02 de abril.
Segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, já se registaram 140 mortes e 6.408 casos de infeções.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, surgiu em dezembro do ano passado na China e já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil.