O BCP considera que a informação disponível sobre o surto de covid-19 permite manter o princípio de continuidade das operações, antecipando que a evolução da atividade em 2020 será condicionada pelo impacto que a pandemia vier a provocar.
No relatório e contas de 2019 hoje enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o BCP refere ser ainda “prematuro estimar eventuais impactos” da pandemia causada pelo novo coronavírus, mas salienta as revisões em baixa das perspetivas de crescimento económico mundial e europeu em 2020, que têm vindo a ser divulgadas.
“Dependendo da profundidade e da extensão temporal dos impactos disruptivos, a atividade e rendibilidade do Grupo será afetada em maior ou menor grau. Com base em toda a informação disponível à data, incluindo no que respeita à situação de liquidez e de capital, bem como quanto ao valor dos ativos, considera-se que se mantém aplicável o princípio da continuidade das operações que esteve subjacente à elaboração das demonstrações financeiras”, refere o relatório, publicado no ‘site’ da CMVM.
Numa mensagem conjunta, os presidentes do Conselho de Administração e da Comissão Executiva do BCP assinalam a desaceleração da atividade económica a que se está a assistir na sequência do confinamento das populações dos países mais atingidos pela doença e nos quais vigoram também fortes restrições à normal atividade económica, fatores que “permitem já antever um cenário de recessão global”.
“Assim, as perspetivas de evolução da atividade do Banco em 2020 encontram-se inesperadamente desafiadas pelo impacto que a pandemia vier a provocar, mas também pela reação à mesma por parte das diversas comunidades e dos agentes económicos das geografias em que estamos presentes”, acrescenta a mensagem conjunta.
Numa comunicação enviada ao mercado na quinta-feira o BCP anunciou que vai propor na assembleia-geral o cancelamento do pagamento de dividendos referentes a 2019, devido à incerteza associada à situação de pandemia, mas vai manter a compensação salarial aos trabalhadores.
Assim, o banco proporá à assembleia-geral a distribuição “de até 1.000,00 euros a cada colaborador que, não tendo já sido integralmente compensado com os resultados distribuídos em 2019, se mantiver em funções na data de pagamento da remuneração correspondente a junho de 2020, até ao valor máximo global de 5.281.000,00 euros”.
Por outro lado, face “aos potenciais impactos e à incerteza associada à situação de pandemia, e ainda que o banco integre o grupo de instituições financeiras sem limitações regulatórias específicas em matéria de distribuição de dividendos, o Conselho de Administração entendeu ainda propor à assembleia-geral anual a retenção dos restantes resultados relativos ao exercício de 2019, dos quais 13.929.601,66 euros para reforço da reserva legal e o remanescente, no montante mínimo de 120.085.414,93 euros, para resultados transitados”.
Esta proposta “visa garantir que o banco esteja mais preparado para fazer face ao presente contexto de incerteza, tendo o Conselho de Administração reiterado a determinação de, uma vez ultrapassada a crise e na medida em que o banco e a economia nacional iniciem a sua recuperação, retomar a política de dividendos aprovada”, lê-se no comunicado.
O Conselho de Administração vai pedir ao presidente da Mesa da Assembleia Geral a convocação da reunião magna anual para o dia 20 de maio.
O BCP registou lucros de 302 milhões de euros em 2019, um aumento de 900 mil euros (0,3%) face aos 301,1 milhões de euros registados em 2018.
O BCP encerrou 2019 com 7.204 trabalhadores em Portugal.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 667 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 31.000.
Dos casos de infeção, pelo menos 134.700 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 119 mortes, mais 19 do que na véspera (+19%), e registaram-se 5.962 casos de infeções confirmadas, mais 792 casos em relação a sábado (+15,3%).
Dos infetados, 486 estão internados, 138 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 43 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.