A maioria dos habitantes de Cabul ignorou as restrições e continuou com as suas rotinas diárias, apesar do confinamento decretado na capital afegã, por causa da pandemia de covid-19.
O Afeganistão, após quatro décadas de conflito, é um dos países mais vulneráveis à pandemia covid-19, o que levou as autoridades a decretarem, a partir de hoje e por três semanas, o encerramento do comércio e serviços na capital e a recomendarem restrições na circulação das pessoas.
No final do primeiro dia de quarentena, as autoridades dizem que as pessoas têm circulado menos nas ruas, mas reconhecem que muitos negócios continuam abertos e que grande parte da população parece não cumprir as recomendações de isolamento social, alegando razões de sobrevivência.
“Pedimos a todos os cidadãos para que continuem a colaborar plenamente com a polícia e com os outros organismos, respeitando o confinamento. Repito a mensagem de que não devem deixar as suas casas por razões desnecessárias, para que possamos impedir a propagação do vírus”, disse Marwa Amini, porta-voz do Ministério do Interior do Afeganistão.
Amini avisou que a polícia será rigorosa nos próximos dias, para procurar assegurar que as pessoas cumprem as diretivas de restrições de circulação, lembrando, no entanto, que o ministro do Interior, Masoud Andarabi, ordenou aos agentes para serem “gentis com os cidadãos”, aconselhando-os a respeitar a quarentena.
“Se os cidadãos continuarem a violar o confinamento, estarão a agir contra a lei. O Ministério do Interior irá tratá-los como criminosos. Espero que os cidadãos respeitem as nossas instruções e nos ajudem”, explicou a porta-voz do Governo afegão.
Muitas das pessoas que as autoridades encontraram a fazer a sua vida normal justificaram a sua decisão por razões financeiras, alegando que não podem ficar em casa, por não terem como conseguir dinheiro para viver, sem as suas formas de sustento.
“Não sei quanto tempo essa quarentena vai durar. Tenho família e filhos que precisam de um pedaço de pão e, para isso, tenho que trabalhar”, disse Jan Agha, um vendedor de flores e plantas em Cabul.
“Aluguei este carro e trabalho como motorista de táxi e, diariamente, ganho entre 300 e 400 afegãos [3,5 e 4,6 euros] e todos os dias compro comida para os meus filhos. Se ficar em casa, um dia que seja, adormeceremos todos com fome”, explicou o taxista Zadran Dostukhail, de 40 anos.
Perante a falta de apoios governamentais para suprir a falta de rendimentos provocada pela quarentena, muitos afegãos decidiram não respeitar as restrições para conter a pandemia, continuando com os seus negócios.
O Afeganistão já registou 112 infetados e três mortes com covid-19, todos na província ocidental de Herat, na fronteira com o Irão, um dos países da região mais afetados pela pandemia.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 600 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 28.000.
Dos casos de infeção, pelo menos 129.100 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.