A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) considerou hoje que a liberdade de imprensa em África também está a ser afetada pela pandemia de covid-19, alegando um “aumento dos atos de intimidação, agressão e censura” contra jornalistas no continente.
“À medida que a pandemia se espalha pelo continente africano, a Repórteres Sem Fronteiras deplora o aumento dos atos de intimidação, agressão e censura contra jornalistas e meios de comunicação social no continente, que cobre a crise sanitária em curso”, referiu a RSF num comunicado emitido hoje.
A organização apelou às autoridades para não combaterem as liberdades fundamentais da imprensa, considerando que esta é “mais essencial que nunca durante este período”.
Entre os casos citados pela RSF, está Tholi Totali Glody, repórter da estação televisiva Alfajari, que na República Democrática do Congo foi perseguido pela polícia e derrubado da sua moto enquanto realizava uma reportagem sobre as medidas de confinamento impostas à população da sua província.
No Senegal, a RSF refere o caso de uma equipa da estação de televisão Touba TV que foi alvo de agressões pela polícia enquanto tinha autorização das autoridades locais para noticiar um confinamento, enquanto no Uganda, o chefe de uma estação de rádio foi agredido por polícias quando cobria o encerramento de um bar.
A RSF aborda ainda os casos de dois jornalistas estrangeiros – Tom Gardner, do The Economist e do The Guardia, e Robbie Corey-Boulet, da agência France-Presse – foram acusados de transportar o vírus para locais de culto.
Além das agressões, a RSF aborda a existência de tentativas para limitar o trabalho dos jornalistas.
“As autoridades da Nigéria e da Libéria decidiram limitar o acesso à presidência a um punhado de meios de comunicação, quase todos eles controlados ou próximos do Governo. Os camaroneses excluíram da comunicação governamental vários meios de comunicação privados, críticos, muito populares, e em Madagáscar, os programas de antena aberta, onde os ouvintes podem intervir e expressar a sua opinião sobre a pandemia, estão agora proibidos”, refere a organização.
A organização de defesa da liberdade de imprensa com sede em Paris defende que “a estratégia de combater as liberdades de informação pode ter consequências particularmente graves no momento”, dando o exemplo da China.
“Numa publicação em que detalha a cronologia das tentativas de asfixiar ou minimizar a escala da crise sanitária, a RSF demonstrou recentemente a devastação da censura e do controlo de informação pelas autoridades chinesas. Se os jornalistas e comunicação social daquele país tivessem conseguido realizar o seu trabalho livremente, milhares de vidas poderiam ter sido poupadas e a epidemia poderia não se tornado numa pandemia global”, concluiu a organização.
Na segunda-feira, a Associação dos Jornalistas de Cabo Verde (Ajoc) considerou “injustificável a ameaça do Governo de responsabilizar judicialmente” os órgãos de comunicação social de divulgarem “informações não verdadeiras” sobre o novo coronavírus, temendo que esta possa ser uma tentativa de controlo da comunicação social.
“Ao ameaçar com ‘responsabilização judicial’ os órgãos de comunicação social que ‘publicarem informações não verdadeiras neste momento de estado de contingência…”, o Governo (…) responsabiliza-a pela disseminação de notícias falsas”, referiu a Ajoc, acrescentando que se trata de “uma acusação ligeira e sem qualquer aderência à realidade e que outra intenção não tem senão o de silenciar a comunicação social e condicionar o trabalho dos jornalistas”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.
Dos casos de infeção, pelo menos 112.200 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.