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Covid-19: Sindicato preocupado com eventuais novos casos em fábrica de Torres Vedras

19-03-2020 18:00h

O sindicato representativo dos mais de mil trabalhadores da fábrica Frismag, que encerra a partir de sexta-feira em Torres Vedras, após confirmação de um caso de infeção na empresa, demonstrou hoje preocupação com o aparecimento de mais casos.

"Preocupa-nos que surjam novos casos, uma vez que o diretor fez reuniões com outros trabalhadores", afirmou à agência Lusa Duarte Fontes, trabalhador e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Transformadora do Centro, Sul e Regiões Autónomas.

Contactado pela Lusa, o diretor João Cachatra, cuja análise ao Covid-19 deu positivo, esclareceu que manteve contactos com as chefias da fábrica, que, por sua vez, poderão ter feito "contactos secundários" com trabalhadores.

O diretor indicou uma lista de 20 a 25 pessoas à autoridade de saúde pública, que as vai manter em isolamento profilático e sob vigilância, confirmou à Lusa fonte do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Oeste Sul, garantindo que não existem mais casos confirmados dentro da fábrica.

No concelho de Torres Vedras, existem quatro casos de infeção, segundo fonte do ACES Oeste Sul.

O fabricante de pequenos eletrodomésticos encerra por um período de 14 dias, entre sexta-feira e o dia 30, estando os trabalhadores hoje a laborar.

"Não encerrámos hoje, porque recebi o resultado da análise à meia-noite e tive de avaliar a situação em conjunto com a companhia na Suíça", explicou o diretor.

Segundo o sindicato, a empresa está a "aliciar os trabalhadores a porem dias de férias", o que é confirmado no comunicado hoje divulgado aos funcionários, onde se lê que "foi decidido antecipar de imediato o período de férias anual".

"Até 15 de abril, podemos alterar o plano de férias e tivemos o parecer favorável da Comissão de Trabalhadores, por isso, os trabalhadores vão estar de férias estes 14 dias", explicou João Cachatra, à exceção de futuros casos positivos ou com sintomas que sejam obrigados a permanecer em casa, sendo-lhes aplicada a baixa médica.

No comunicado aos mais de mil trabalhadores, a empresa justifica o encerramento pelo facto de o diretor se encontrar em isolamento desde segunda-feira e infetado, depois de ter recebido o resultado positivo da análise.

Na quarta-feira, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Transformadora do Centro, Sul e Regiões Autónomas pediu o encerramento da unidade, ao apontar alegadas falhas do plano de contingência contra a Covid-19, nomeadamente haver trabalhadores a trabalhar "ombro a ombro".

João Cachatra, esclareceu que o plano de contingência está a ser cumprido, tendo sido implementados procedimentos de higienização, redução de trabalhadores em cada linha e criação de dois horários diferentes, com uma hora de intervalo.

Contudo, admitiu que precisa ainda de ajustes e está a tentar adquirir termómetros, para passar a medir a temperatura, e máscaras em quantidade para haver ‘stock' suficiente para os trabalhadores, de modo a serem implementadas todas as condições quando a fabricar reabrir no dia 31.

Com o encerramento das escolas, desde segunda-feira que uma centena de trabalhadores está em casa a apoiar os filhos.

A produção "baixou, mas para já não atingiu níveis significativos", nem teve reflexos na faturação, adiantou.

A fábrica já tinha anunciado que vai despedir entre 40 e 50 trabalhadores temporários até ao final deste mês por redução de encomendas e de faturação, com a rescisão do contrato com um cliente, que representada 14% na sua faturação.

A rescisão do contrato com a multinacional já vinha a ser preparada desde há dois anos.

A Eugster Frismag de Torres Vedras, no distrito de Lisboa, emprega 1.060 trabalhadores e faturou 118 milhões de euros em 2019 com o fabrico de pequenos eletrodomésticos, em grande parte máquinas de café.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 220 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.900 morreram.

Das pessoas infetadas, mais de 85.500 recuperaram da doença.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 176 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 785, mais 143 do que na quarta-feira. O número de mortos no país subiu para três.

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