SAÚDE QUE SE VÊ

Covid-19: África deve ver crise do novo coronavírus como oportunidade - AfCFTA

19-03-2020 17:32h

O novo secretário-geral da zona de livre comércio africana (AfCFTA, na sigla inglesa) defendeu hoje que a pandemia do novo coronavírus pode ser uma oportunidade para África reduzir a dependência do exterior e estimular o comércio dentro do continente.

“África não deve desesperar e cair no desânimo. De uma perspetiva comercial, devemos ver esta crise como uma oportunidade de, através da AfCFTA, reconfigurar as nossas cadeias de abastecimento, reduzir a dependência do exterior e acelerar o estabelecimento de cadeias de valor regionais que impulsionarão o comércio intra-africano", disse Wamkele Mene.

O diplomata sul-africano tomou hoje posse como primeiro secretário-geral da African Continental Free Trade Area (AfCFTA) ou Zona de Livre Comércio Continental Africana (Zlec), criada em julho por um acordo assinado por 54 dos 55 Estados-membros da União Africana e ratificado até ao momento por 29.

O secretariado da AfCFTA terá a sua sede no Gana, país onde deveria ter decorrido a cerimónia oficial de posse de Wamkele Mene, com a presença do presidente em exercício da União Africana (UA) e chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa.

A cerimónia foi, no entanto, reduzida ao mínimo e realizada na sede da UA, em Adis Abeba, por causa das medidas sanitárias aprovadas pela organização para evitar a propagação do novo coronavírus responsável pela pandemia Covid-19.

Durante a sua intervenção, Wamkele Mene sublinhou o papel do Gana na linha da frente da integração africana, considerando que o país deve, por isso, “estar na vanguarda dos esforços de criação” da zona de livre comércio.

"AfCFTA é uma resposta crucial aos desafios do desenvolvimento em África. Tem o potencial de permitir impulsionar significativamente o comércio intra-africano, melhorar as economias de escala e estabelecer um mercado integrado"”, disse.

O primeiro secretário-geral acrescentou que a iniciativa “envia também um forte sinal à comunidade internacional de investidores de que a África está aberta aos negócios, com base num único regulamento para o comércio e o investimento”.

O presidente da comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, felicitou o novo secretário-geral pela sua eleição durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo da organização, em fevereiro, sublinhando os desafios futuros.

“A tarefa é gigantesca, mas emocionante, porque irá trabalhar no projeto mais emblemático da história da União Africana. A AfCFTA é uma necessidade de África para fortalecer a sua integração", salientou.

Estima-se que a concretização da zona de livre comércio africana venha a aumentar as trocas comerciais regionais para 135 mil milhões de dólares (124,26 mil milhões de euros), 35% acima do valor atual.

A criação desta região económica, que visa fortalecer os fragmentados mercados africanos e a presença, a uma só voz, na cena internacional nas negociações com outros blocos, vai permitir apoiar o desenvolvimento de um continente com cerca de 1.200 milhões de habitantes.

O processo prevê, até 2028, a constituição de um mercado comum e de uma união económica e monetária de África, razão pela qual também está em curso a implementação do Passaporte Único Africano, tudo incluído na chamada Agenda 2063, que visa desenvolver económica, financeira e socialmente o continente.

Até ao momento o acordo para a criação da zona de comércio africana foi assinado por 54 países e ratificado por 29. Apenas a Eritreia não assinou.

Entre os países africanos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) apenas a Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe ratificaram o acordo.

MAIS NOTÍCIAS