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Covid-19: Cientista que influenciou governo britânico a mudar de estratégia contagiado

LUSA
18-03-2020 11:56h

Um dos autores do artigo científico que influenciou a mudança de abordagem do governo britânico no combate ao coronavírus Covid-19 está em isolamento por ter desenvolvido sintomas, revelou hoje o próprio.

“Comecei com uma tosse ligeira na terça-feira durante uma entrevista e, por precaução, auto-isolei-me durante sete dias no meu apartamento em Londres. Às quatro da manhã tive uma febre alta, que entretanto baixou”, disse Neil Ferguson, vice-reitor da Faculdade de Medicina da universidade Imperial College London, à BBC Rádio 4 esta manhã. 

O cientista admitiu ter estado em reuniões com outros colegas e em contacto com os principais responsáveis pela gestão da crise, nomeadamente o diretor geral da saúde, Chris Whitty, o conselheiro científico do governo, Patrick Vallance, e o primeiro-ministro, Boris Johnson. 

“Pensamos que somos contagiosos durante um dia antes de ter os sintomas e estive numa conferência de imprensa em Downing Street [residência oficial do primeiro-ministro] nesse dia, mas não estive na proximidade de ninguém há mais de 12 horas. Há ligeiro risco de ter infetado alguém, mas é ligeiro”, vincou. 

Ferguson acredita que o centro de Londres "tornou-se no foco da crise do país” e que existem "certamente milhares de casos" na capital, usando o seu caso como um exemplo da necessidade do plano ativado esta semana. 

O governo britânico já tinha pedido a todos os britânicos para se auto-isolarem se desenvolverem os sintomas de tosse contínua e febre alta, mas na segunda-feira intensificou as medidas, aumentando o período de quarentena de sete para 14 dias.

Aconselhou também as pessoas a não frequentarem bares (‘pubs’), restaurantes, cinemas, teatro, reduzindo o contacto social e viagens desnecessárias e trabalhando a partir de casa.

A estratégia de “supressão” do contágio foi influenciada por um estudo da universidade Imperial College London e da Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres, que alertou para o risco de o número de mortes chegar às 260.000 no Reino Unido se o governo não impusesse medidas mais rigorosas de distanciamento social devido à sobrecarga dos serviços de saúde. 

As autoridades britânicas esperam poder reduzir a mortalidade resultando do Covid-19 para menos de 20.000 óbitos. 

De acordo com os números disponíveis, o Reino Unido registou até agora 71 mortes resultantes da pandemia do Covid-19 e identificou 1.950 casos positivos entre 50.442 testadas, estando o diagnóstico apenas disponível para aqueles que tenham necessidade de assistência médica.

 

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