Especialistas nacionais e internacionais vão estar reunidos entre hoje e quarta-feira em Lisboa para debater políticas de vacinação e estratégias dirigidas a profissionais de saúde, grávidas, idosos e imunocomprometidos, reforçando as prioridades na proteção coletiva.
Organizado em colaboração com académicos e representantes da saúde pública portuguesa, o evento da Adult Immunization Board (AIB) pretende promover a troca de boas práticas para reforçar a vacinação de adultos em Portugal e na Europa.
Em declarações à agência Lusa, o pneumologista Filipe Froes explicou que o objetivo do encontro da AIB será “avaliar o que Portugal tem de bom, que pode servir de exemplo a outros países, e identificar situações passíveis de melhoria”.
O especialista realçou a acessibilidade garantida pela vacinação em farmácias, pioneira em Portugal, e a confiança nas instituições de saúde, que permitiram alcançar uma das maiores taxas de cobertura vacinal contra a covid-19 no mundo.
“Nós fomos um dos países pioneiros à escala mundial do alargamento da acessibilidade da vacinação nas farmácias. Isto é uma resposta que tem mais de 10 anos. Temos também uma grande confiança nas organizações oficiais e nas organizações de saúde, que tem permitido manter níveis elevados de vacinação bastante importantes”, salientou.
Reforçando a importância da prevenção como a melhor forma de tratar doenças, o médico do Hospital Pulido Valente (Lisboa) lamentou, contudo, a ausência de comparticipação em várias vacinas, como a de dose elevada contra a gripe, o herpes-vírus ou o vírus sincicial respiratório.
“Há várias vacinas que não são comparticipadas e temos de nos aproximar das práticas europeias”, afirmou, considerando que Portugal tem “uma deficiente valorização da imunização ao longo da vida”.
Filipe Froes reconheceu que o Programa Nacional de Vacinação continua “muito centrado” em idades pediátricas.
“Já alargou para algumas idades de adultos, mas ainda não está devidamente adaptado ao programa de imunização ao longo da vida”, disse.
Para aumentar as taxas de cobertura vacinal, sobretudo na população mais idosa, Filipe Froes propõe, em conjunto com o médico inglês George Kassianos, a mesma estratégia que foi adotada pela Organização Mundial da Saúde em 2021 contra a SIDA.
“Nós não vamos inventar a roda, a roda já está inventada, nós vamos adotar uma estratégia que foi fundamental para o controlo da SIDA e adaptá-la às especificidades do combate à gripe”, sublinhou.
Em estudo, está a adoção da estratégia “95-95-95” para atingir 95% de cobertura vacinal em idosos com mais de 65 anos, doentes crónicos e profissionais de saúde, reduzindo significativamente o impacto da infeção.
O médico defendeu ainda mais investimento em literacia em saúde, sobretudo entre os mais jovens, abrangendo áreas como alimentação, combate ao tabaco e uso correto de antimicrobianos.
“A nossa liberdade depende do conhecimento, não da ignorância”, observou, alertando para os riscos da hesitação vacinal e da desinformação, fenómenos que ganharam força durante a pandemia.
Fundando em 2022, pela Universidade de Antuérpia e pela Universidade de Florença, o AIB é apoiado por uma bolsa não restritiva da Vaccines Europe e tem o objetivo de contribuir para a redução da mortalidade e da morbilidade causadas por infeções e doenças preveníveis por vacina em adultos na Europa.
A sua principal missão é fornecer orientação baseada em evidência científica sobre questões técnicas e estratégicas fundamentais, acompanhando o progresso dos programas de imunização de adultos a nível europeu.