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Hospital de Ponta Delgada podia ter reaberto em agosto de 2024 - responsável

LUSA
29-04-2025 17:42h

O responsável pelo Serviço de Instalações e Equipamentos do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, José Ponte, disse hoje que aquela unidade de saúde poderia ter reaberto em agosto do ano passado, apesar do incêndio de 04 de maio.

“Era possível criar condições para abrir o edifício no final de agosto, com as condições existente a 03 de maio, com utilização dos recursos que tínhamos à disposição”, explicou José Ponte na Comissão de Inquérito ao Incêndio no HDES, criada pelo parlamento açoriano, que está reunida em audições em Ponta Delgada.

O técnico, que é responsável pelo Serviço de Instalações e Equipamentos da maior unidade de saúde dos Açores desde março de 1992, garantiu que as intervenções técnicas realizadas após o incêndio no HDES permitiam que a atividade assistencial pudesse ser retomada, “com alguma normalidade”, na maior parte do edifício.

Segundo explicou, foram efetuadas intervenções nas unidades de tratamento do ar do bloco operatório do hospital, que criaram garantias de um “melhor desempenho”, em comparação com as condições técnicas que existiam antes da catástrofe, que, recorde-se, levou à transferência dos doentes para outras unidades de saúde dos Açores e da Madeira.

José Ponte disse também que reportou ao Conselho de Administração do HDES, por diversas vezes, desde 2013, a necessidade de se investir num novo sistema de deteção de incêndios, mas admitiu que o investimento nunca chegou a avançar, por que custaria cerca de meio milhão de euros.

“Sempre o fizemos junto do Conselho de Administração, a quem competia tomar a decisão, mas dado o montante elevado que estava em causa, isso ultrapassava a capacidade do Conselho de Administração, por isso é que o caso foi levado à tutela”, acrescentou aquele responsável técnico.

Confrontado pelos deputados sobre quem teria responsabilidades políticas pelo desinvestimento na manutenção do Hospital de Ponta Delgada, José Ponte deixou um desabafo: “a responsabilidade é das duas partes. O PSD já está a tempo suficiente no governo [4 anos] para fazer alguma coisa e o PS também esteve muito tempo no governo [24 anos] para fazer alguma coisa”.

José Ponte admitiu também “dormir mal”, perante investimentos, em matéria de segurança que eram necessários realizar no HDES, ainda antes do incêndio de 04 de maio, o qual terá tido origem numa bateria de condensadores de fator de potência, que foi detetada já tardiamente pelos funcionários do hospital.

O Governo dos Açores decidiu investir, entretanto, na instalação de um hospital modular, junto ao HDES, que terá custado cerca de 30 milhões de euros, para garantir a recuperação da atividade assistencial na maior ilha dos Açores, mesmo contra a vontade dos técnicos e engenheiros, que entendem que o edifício principal estaria em condições de reabrir, sem ser necessário realizar grandes intervenções.

Uma opinião que é partilhada também por Ricardo Duarte, administrador da empresa StechComply, responsável pela qualidade do ar nos equipamentos instalados no HDES, que assegurou, numa audição realizada esta terça-feira, que as intervenções técnicas efetuadas pela manutenção daquela unidade de saúde, permitiriam a reabertura “segura” do hospital no final de agosto do ano passado.

“Quando nós chegámos, verificámos que a parte de manutenção do hospital já tinha feito a troca dos pré-filtros primários e dos filtros secundários. Verificámos também que, ao nível das unidades de tratamento de ar, apresentavam já alguns problemas, que tentaram ser minimizados por parte da manutenção”, adiantou Ricardo Duarte, acrescentando que, no final de agosto, já tinham sido concluídos os ensaios daqueles equipamentos, e que era “segura” a sua utilização.

A comissão parlamentar de inquérito ao incêndio no HDES, criada por proposta do PSD, pretende apurar as causas e as consequências da catástrofe e determinar se o desempenho da tutela foi o adequado, antes e após a catástrofe.

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