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RDCongo: Médicos Sem Fronteiras denunciam assassinato de funcionário

LUSA
24-04-2025 21:28h

Um funcionário da organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi morto a tiro na sexta-feira no leste da República Democrática do Congo (RDC) “por um homem armado e fardado”, anunciou a ONG num comunicado.

com a violência contra civis e trabalhadores humanitários”.

No final de fevereiro, um outro funcionário da organização humanitária morreu depois de ter sido gravemente ferido por disparos durante os combates no leste da RDC entre o grupo armado antigovernamental, Movimento 23 de Março (M23), e milicianos pró-governamentais.

Ambos os incidentes tiveram lugar em Masisi, uma cidade da província de Kivu do Norte.

A região oriental da RDC, rica em recursos naturais e que faz fronteira com o Ruanda, é afetada por conflitos há trinta anos e a violência intensificou-se nos últimos meses, com o M23 - que afirma defender os interesses dos Tutsis da região e é apoiado pelo Ruanda e pelo seu exército - a assumir o controlo das principais cidades de Goma e Bukavu.

“Na sexta-feira, 18 de abril, dois homens em uniforme militar, armados com espingardas de assalto, assaltaram e extorquiram dinheiro de civis na cidade de Masisi, antes de invadirem a casa de um funcionário do MSF para extorquir os seus pertences”, disse a ONG, sem revelar o nome da vítima.

“Estes homens armados usaram as suas armas, ferindo mortalmente o funcionário do MSF, que foi atingido duas vezes no peito”, continuou a organização, que registou cerca de quinze incidentes que afetaram as suas equipas ou as estruturas que apoia desde janeiro.

Citado no comunicado de imprensa, o representante do MSF na RDC, Emmanuel Lampaert, lamentou um “ato terrível que reflete a deterioração maciça da segurança a que assistimos no Kivu Norte e Sul desde o início do ano”.

“Mesmo longe das linhas da frente, a insegurança está em todo o lado”, advertiu Mathilde Guého, chefe dos programas do MSF no Kivu do Norte.

Os Médicos Sem Fronteiras têm cerca de 3.000 funcionários locais e estrangeiros na RDC.

Na quarta-feira, o Governo da RDC e o M23 emitiram pela primeira vez uma declaração conjunta à margem de negociações bilaterais no Qatar, comprometendo-se a "trabalhar para uma trégua".

"Após discussões francas e construtivas, representantes da República Democrática do Congo e da AFC/M23 concordaram em trabalhar para a conclusão de uma trégua", anunciaram o M23 e o Governo da RDC na declaração conjunta difundida pela televisão congolesa e pelo porta-voz do M23.

"Ambas as partes reafirmam o seu compromisso com a cessação imediata das hostilidades", que pretendem respeitar "imediatamente" e "durante toda a duração das negociações e até à sua conclusão", segundo o comunicado.

O texto não especificava se este compromisso constitui uma declaração de intenções ou se será formalizado de imediato.

O diálogo no Qatar, que durou quase três semanas, revelou-se largamente infrutífero, apesar de alguns encontros diretos entre as duas delegações.

Desde a intensificação da ofensiva do M23, cerca de 1,2 milhões de pessoas foram deslocadas nestas duas províncias, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Além disso, os confrontos que eclodiram em Goma e nos seus arredores fizeram mais de 8.500 mortos em janeiro, segundo o ministro da Saúde Pública democrático-congolês, Samuel Roger Kamba, no final de fevereiro.

A atividade armada do M23, um grupo constituído principalmente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994, recomeçou no Kivu Norte em novembro de 2021 com ataques relâmpagos contra o exército governamental.

O leste da RDCongo está mergulhado em conflitos desde 1998, alimentados por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU (Monusco).  

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