Cientistas descobriram uma forma de tatuar tardígrados, criaturas de oito patas apelidadas de 'ursos de água', que medem apenas meio milímetro de comprimento e conseguem sobreviver a praticamente tudo.
Os investigadores, que publicaram um artigo na revista Nano Letters, aproveitaram a natureza quase indestrutível dos tardígrados — resistentes a temperaturas gélidas, quase inanição, alta pressão, exposição à radiação, espaço exterior e muito mais — e fizeram pequenas 'tatuagens' para testar uma técnica de microfabricação que permite a construção de dispositivos microscópicos e biocompatíveis.
"Com esta tecnologia, não só criamos microtatuagens em tardígrados, como estendemos essa capacidade a vários organismos vivos, incluindo bactérias", explicou Ding Zhao, coautor do artigo, em comunicado citado na quarta-feira pela agência Europa Press.
A microfabricação revolucionou a eletrónica e a fotónica, criando dispositivos em micro e nanoescala que vão desde microprocessadores e células solares a biossensores que detetam a contaminação de alimentos ou células cancerígenas.
Mas a tecnologia também pode promover a medicina e a engenharia biomédica se os investigadores puderem adaptar as técnicas de microfabricação para as tornar compatíveis com o mundo biológico.
Assim, Zhao e a sua equipa utilizaram um processo que utiliza um feixe de eletrões para esculpir um padrão numa fina camada de gelo cobrindo tecido vivo, chamado litografia de gelo, deixando um desenho quando o gelo restante sublima.
A equipa submeteu os tardígrados a um estado criptobiótico (uma espécie de animação suspensa e semimorta) desidratando lentamente os animais microscópicos.
Os investigadores colocaram então um tardígrado individual num papel composto de carbono, arrefeceram a folha abaixo dos -143°C e cobriram o 'urso de água' com uma camada protetora de anisol, um composto orgânico com aroma a anis.
O anisol congelado protegeu a superfície do tardígrado do feixe de eletrões focado enquanto desenhava o padrão.
Ao ser exposto ao feixe, o anisol reagiu para formar um novo composto químico biocompatível que aderiu à superfície do tardígrado a temperaturas mais elevadas. Quando o tardígrado atingiu a temperatura ambiente sob vácuo, o anisol congelado que não reagiu sublimou, deixando o padrão de anisol reagir. Por fim, os investigadores reidrataram e fizeram renascer o tardígrado, que exibia uma nova tatuagem.
A precisão desta técnica permitiu à equipa criar vários micropadrões: quadrados, pontos e linhas até 72 nanómetros de largura, e até o logótipo da universidade.
Cerca de 40% dos tardígrados sobreviveram ao procedimento, e os investigadores frisaram que este resultado pode ser melhorado com mais ajustes.
Sublinharam ainda que os tardígrados não pareceram importar-se com as suas novas tatuagens: uma vez reidratados, não mostraram qualquer alteração de comportamento.
Estes resultados indicam que esta técnica pode ser adequada para imprimir microelectrónica ou sensores em tecidos vivos.
Após este primeiro passo, a equipa espera que este trabalho possa impulsionar avanços como os ciborgues microbianos e outras aplicações biomédicas no futuro.