A presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos lamentou hoje que não haja um debate sério sobre cuidados especializados a doentes com doenças graves e em fim de vida e seus cuidadores, sobretudo numa altura de eleições legislativas.
“É, para nós, uma grande preocupação que não haja um debate sério à volta da forma como vivem as pessoas com doenças graves e as pessoas que estão a viver a sua fase mais final da vida e as famílias e cuidadores destes doentes”, afirmou Catarina Pazes.
Para a dirigente, além de não se debater essa questão, também não existe por parte dos candidatos às eleições legislativas de 18 de maio uma preocupação em abordar estes temas sobre os quais é “preciso muito refletir”.
“Não existem propostas conhecidas por parte dos vários partidos políticos e não é um assunto em nenhum debate que nós temos acompanhado e para nós isso é, de facto, uma grande preocupação percebermos que vão saindo medidas avulsas com pouco conhecimento do terreno”, referiu.
Na sua opinião, o país precisa que estes assuntos venham “para cima da mesa” porque se tratam de milhares de pessoas que, todos os dias, recorrem a hospitais que estão sobrelotados e não têm uma resposta adequada àquilo que são as suas necessidades.
“Por isso, precisamos muito de refletir sobre o que precisamos de ter nos hospitais, centros de saúde, cuidados continuados, lares de idosos e instituições onde vivem crianças, jovens e adultos com problemas graves de saúde e com grande dependência”, entendeu.
Pessoas com doenças graves e em fim de vida são aquelas que, normalmente, precisam de recorrer mais ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, por muito que se esforcem, não conseguem responder às suas necessidades, frisou.
Catarina Pazes ressalvou que o país não está preparado para responder às necessidades atuais nessa matéria, nem para as que vão surgir no futuro que deverão duplicar.
“As necessidades são exponenciais e, portanto, são exponencialmente crescentes”, sublinhou.
A responsável lembrou que em Portugal 70% dos doentes não têm acesso a cuidados paliativos em tempo útil, percentagem que, no caso das crianças, chega aos 90%, o que é uma “realidade alarmante”.
Estes dados são do conhecimento dos decisores que os parecem ignorar no momento da implementação de medidas, vincou.
A esse propósito, a presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos contou que, muito recentemente, entregou à secretária de Estado da Saúde e à Direção Executiva do SNS um memorando com propostas urgentes para o desenvolvimento dos cuidados paliativos e a resolução dos problemas de acesso em cuidados paliativos no país.
Dizendo que tem de haver por parte do Ministério da Saúde uma visão de prioridade que passe da palavra para a ação, Catarina Pazes assinalou que há muito a fazer na área da formação, designadamente em dar aos profissionais que se querem desenvolver nesta área condições para desenvolverem competências teóricas e práticas e dar uma carreira adequada aos profissionais que optam por esta área.