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Profissionais de saúde moçambicanos adiam greve mas alertam para "impaciência"

LUSA
04-04-2025 18:39h

A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) anunciou hoje o adiamento, por mais uma semana, da greve agendada para segunda-feira, enquanto decorrem negociações com o Governo moçambicano, mas alertou para “impaciência” dos associados.

“Nós vamos avançar ou não com a greve mediante os resultados que vamos ter durante a próxima semana (…). Dissemos que tinham de ser céleres até à próxima semana, porque os associados já estão impacientes”, afirmou Anselmo Muchave, presidente da APSUSM, durante uma conferência de imprensa, em Maputo.

Segundo o responsável, no encontro realizado na quinta-feira, o executivo moçambicano avançou que está a reunir a documentação, junto de outras entidades, para a resolução das reivindicações do setor, tendo também anunciado a aquisição de parte do material dos hospitais que os profissionais de saúde reclamam.

“Nós aguardamos que o Governo possa trazer-nos os resultados daquilo que são os documentos que estavam parados nos ministérios desde o ano passado (…). Ao saírem esses resultados, vamos já tomar uma decisão definitiva sobre a greve”, disse Muchave, alertando para a retoma da greve caso os resultados apresentados pelo executivo “não sejam satisfatórios”.

A APSUSM avançou que não foram ainda marcadas as datas para o próximo encontro com o Governo moçambicano, no que seria a segunda reunião entre as partes, após ter sido desconvocada uma greve prevista para segunda-feira.

Em causa estão as exigências da APSUSM, que há três anos pede que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, face à necessidade, em alguns casos, de serem adquiridos pelos pacientes, bem como a aquisição de camas hospitalares.

Outras reivindicações passam pela resolução da "falta de alimentação", o equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartáveis, cuja ausência vai "obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso", além de um melhor enquadramento no âmbito da Tabela Salarial Única (TSU).

O ministro da Saúde moçambicano, Ussene Isse, alertou, em 21 de março, que uma eventual greve no setor será “um desastre” e pediu diálogo aos profissionais.

“Greve na saúde é um desastre, autêntico desastre. Imagine só ficar 10 a 15 minutos sem atender um doente na sala de reanimação, um doente crítico, o que vai acontecer? Morte. Já aconteceu aqui várias vezes, familiares de colegas nossos perderam a vida. É ou não uma tragédia?”, questionou Ussene Isse, garantindo que o Governo se tem “pautado pelo diálogo” com os profissionais da classe com objetivo de resolver as suas preocupações.

O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários, convocadas, primeiro, pela Associação Médica de Moçambique (AMM) e, depois, pela APSUSM, que abrange cerca de 65.000 profissionais de saúde de diferentes departamentos e que exigem, sobretudo, melhorias das condições de trabalho.

O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.

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