O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, afirmou hoje que as tarifas que o Presidente norte-americano se prepara para apresentar na quarta-feira terão de ter uma resposta da União Europeia, sublinhando que o processo será sempre negativo.
“Pode haver atores que sejam mais atingidos do que outros” e “a resposta da União Europeia tem de atender a esse equilíbrio”, afirmou, à margem do Foro La Toja, que decorre hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
Admitindo que “subir tarifas nesta fase é sempre negativo e implica uma contra-resposta”, o ministro defendeu ser necessário esperar para conhecer o que Donald Trump irá apresentar antes de determinar qualquer retaliação.
Até porque “provavelmente [as taxas] não serão apenas para a União Europeia e isso pode ter um outro impacto também”, explicou.
O Presidente dos Estados Unidos prometeu divulgar, a 02 de abril, uma série de novas tarifas a aplicar de forma global, nomeadamente aos Estados-membros da União Europeia, que incluem a imposição de uma taxa de 25% sobre todos os carros exportados para os EUA.
Apesar das ameaças, pouco foi revelado sobre as decisões a apresentar no que Donald Trump chamou de “Dia da Libertação”, mas a Casa Branca prometeu um “grande impacto” para todo o mundo.
“Vamos aguardar pela decisão de amanhã [quarta-feira], vamos ver que respostas podemos dar e, em função disso, ver se iniciamos também um processo de conversações tendente a reverter esse processo”, disse Paulo Rangel, admitindo que se trata de uma situação em que todos perdem.
“Ninguém ganha e, perdendo a economia mundial, perdem todos os cidadãos e todas cidadãs que trabalham todos os dias”, afirmou, lamentando que os Estados Unidos tenham decidido adotar uma postura “muito protecionista”.
Rangel defendeu hoje que a Europa tem de diversificar as suas dependências como forma de reagir à mudança da ordem mundial, apostando nas relações com o Mercosul, com África, com o Sudeste Asiático e com os países árabes.
Apesar de reconhecer que a relação com os Estados Unidos deve manter-se como “uma prioridade dos Estados ibéricos”, de forma “tão positiva e funcional quanto possível”, Paulo Rangel considerou que, “no futuro, só terá autonomia estratégica quem for capaz de depender” de ter múltiplas relações de "dependência económica".
Um outro campo em que a Europa tem de investir é na segurança e defesa, disse, numa altura em que os Estados Unidos têm pressionado a ligação com a Europa na organização de defesa militar NATO.
“Sei que talvez não estejamos todos ainda convencidos, mas não podemos esperar mais. Temos que investir, temos de contribuir para uma comunidade europeia de segurança e defesa”, afirmou.
A intervenção no Foro La Toja – que o ministro dos Negócios Estrangeiros referiu ter sido, em 2024, a primeira depois de assumir o cargo e que será uma das últimas este ano antes das eleições legislativas de meio – passou também por elogiar as relações entre Portugal e Espanha.
“Em democracia, Portugal e Espanha vivem o período mais profícuo e mais próximo da História de muitos séculos de relacionamento”, avançou, considerando a ligação cada vez mais fundamental numa altura em que se vive “uma mudança estrutural da ordem mundial”.
A III edição do Fórum La Toja- Vínculo Atlântico realiza-se hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, e pretende analisar as mudanças estruturais que impactam tanto a Europa como o resto do mundo.
Promovida pela Fundación La Toja, esta edição centra o debate no papel da Europa no atual contexto geopolítico, as oportunidades e os desafios no novo panorama internacional e a importância da cooperação ibérica num contexto de transformação acelerada.