O organismo de vigilância dos medicamentos da Nigéria destruiu, em meados de março, medicamentos no valor de um trilião de nairas (604,82 milhões de euros), após seis semanas de apreensões em Lagos e em dois estados do sudeste.
As apreensões foram realizadas no âmbito da luta contra a importação e venda de medicamentos falsificados, que decorre em todo o país.
A crise económica na Nigéria está a levar os consumidores a comprar cada vez mais medicamentos contrafeitos - potencialmente perigosos para a saúde -, mas mais baratos, alimentando um comércio que já está bem estabelecido no país mais populoso de África.
As autoridades nigerianas lutam contra a contrafação de medicamentos há décadas, mas a inflação de dois dígitos e a crise do custo de vida, que se seguiu às reformas económicas do Governo, estão a colocar os medicamentos legais fora do alcance de muitas famílias.
Sayo Akintola, porta-voz da Agência Nacional para a Administração e Controlo de Alimentos e Medicamentos (NAFDAC), disse à agência France-Press (AFP) que as autoridades não tinham previsto a dimensão das apreensões feitas durante as rusgas aos mercados de droga em Lagos, Aba, Osisioma e Onitsha.
Mais de 100 camiões carregados de “drogas não registadas e proibidas” e opiáceos foram apreendidos em Lagos durante a rusga da NAFDAC. Outros 80 camiões foram confiscados em Aba e Onitsha.
As causas deste problema são complexas, mas a crise económica da Nigéria está a agravar a situação, disse Tanimola Akande, professor de Saúde Pública na Universidade nigeriana de Ilorin, acrescentando que “muitos nigerianos estão agora a ter dificuldade em comprar medicamentos para se tratarem”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um em cada dez medicamentos nos países de baixo e médio rendimento é de baixa qualidade ou contrafeito.
A saída de gigantes farmacêuticos do país devido ao difícil ambiente empresarial da Nigéria e à inflação persistente nos últimos anos também deixou uma lacuna no mercado.
O gigante americano Pfizer cessou recentemente as suas atividades no país. A multinacional britânica GlaxoSmithKline e a empresa francesa Sanofi deixaram a Nigéria em 2023.
Para o Professor Akande, estas saídas “pioraram a oferta de medicamentos de qualidade” na Nigéria, com os preços de alguns medicamentos a subirem até 1.100%, de acordo com a consultora de risco SBM Intelligence, sediada em Lagos.
Por outro lado, as reformas económicas lançadas pelo Presidente nigeriano, Bola Ahmed Tinubu, que chegou ao poder em maio de 2023, conduziram a uma profunda crise económica, com a inflação no seu nível mais elevado das últimas três décadas.
Cerca de 56% dos nigerianos, ou seja, 129 milhões de pessoas, vivem abaixo do limiar de pobreza, segundo o Banco Mundial.
O decreto presidencial assinado em junho de 2024 para estimular a produção farmacêutica local teve pouco efeito.
Quando as pessoas não têm dinheiro para comprar medicamentos, “isso pode levar a complicações da doença e até mesmo aumentar o número de internamentos hospitalares e mortes”, de acordo com Akande.
A maioria dos medicamentos contrafeitos apreendidos foram contrabandeados para a Nigéria através das fronteiras notoriamente porosas do país e provinham principalmente da Índia e da China, explicou Sayo Akintola.
Segundo o responsável da NAFDAC, os importadores de medicamentos falsificados representam um risco para a segurança do país, porque não hesitam em recorrer à violência se forem detidos.
Dois funcionários da NAFDAC sobreviveram a um linchamento durante uma rusga em Onitsha em 2024.
“É este o risco que corremos sempre”, lamentou o Diretor-Geral da NAFDAC, Mojisola Adeyeye, em comunicado.
Em 2010, homens armados raptaram quatro membros do pessoal da agência em Abia. No mesmo mês, um dos diretores da agência, Obi Emeka Wohley, foi encontrado morto na sua casa no estado vizinho de Imo.