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Sudão: Guerra causou maior crise humanitária do mundo que afeta 30 milhões de pessoas

LUSA
13-03-2025 21:47h

A guerra no Sudão criou a maior e mais devastadora crise humanitária do mundo, com mais de 30 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda este ano, 16 milhões das quais são crianças, afirmou hoje a diretora da Unicef.

Sem fim à vista para o conflito de quase dois anos, Catherine Russell, diretora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), disse ao Conselho de Segurança da ONU que as crianças no Sudão estão a suportar “um sofrimento inimaginável e uma violência horrível”.

Estima-se que 1,3 milhões de crianças vivam em locais onde a fome está a ocorrer e espera-se que mais de 770 mil sofram de “desnutrição aguda grave” só este ano, segundo Russel, e que sem ajuda muitas delas morrerão.

Desde o início do conflito em 2023, pelo menos 20 mil pessoas foram mortas, embora o número seja provavelmente muito superior, e mais de 14 milhões foram expulsas das suas casas.

A diretora executiva da Unicef afirmou que 80% dos mais de 900 incidentes graves contra crianças registados nos últimos seis meses de 2024 foram assassinatos ou mutilações, principalmente em Darfur, Cartum e na província de Gezira.

“Infelizmente, sabemos que estes números são apenas uma fração da realidade”, afirmou.

Russell afirmou que a violência sexual utilizada para aterrorizar a população sudanesa é generalizada, estimando-se que 12,1 milhões de mulheres e raparigas - e cada vez mais homens e rapazes - estejam atualmente em risco.

Este número representa um aumento de 80% em relação ao ano passado.

De acordo com os dados que a Unicef analisou de grupos que prestam serviços no Sudão, houve um total de 221 casos relatados de violação contra crianças em 2024 em nove províncias. A Unicef estima que 67% das vítimas de violação eram raparigas e 33% rapazes.

“Em 16 dos casos registados, as crianças tinham menos de cinco anos de idade. Quatro eram bebés com menos de um ano de idade”, disse Russell.

A Comissária sublinhou que este é apenas um vislumbre do que a Unicef sabe ser uma crise muito maior, com os sobreviventes ou as suas famílias muitas vezes a não quererem ou não poderem apresentar queixa.

Christopher Lockyear, secretário-geral dos Médicos Sem Fronteiras, que esteve na província de Cartum há seis semanas, disse ao Conselho das Nações Unidas que ambos os lados do conflito estão a agravar o sofrimento dos civis.

As forças governamentais têm bombardeado indiscriminadamente áreas povoadas e as Forças de Apoio Rápido paramilitares e as milícias aliadas têm-se envolvido em violência sexual sistemática, raptos, assassinatos em massa, pilhagem de ajuda humanitária e ocupação de instalações médicas, disse ele.

“Ambos os lados cercaram cidades, destruíram infraestruturas civis vitais e bloquearam a ajuda humanitária”, afirmou.

A guerra no Sudão, que começou em 15 de abril de 2023, já fez deslocar aproximadamente 12,8 milhões de pessoas.

Catherine Russel tem vindo a alertar para as condições no Sudão já tendo sublinhado que “ninguém, nenhuma criança, deveria ter de suportar estes horrores. Isto tem de acabar imediatamente”.

“O facto de crianças com apenas um ano de idade serem violadas por homens armados deveria chocar toda a gente até ao fundo das suas almas e obrigá-la a tomar medidas imediatas”, defende a diretora.

O conflito teve início quando as tensões há muito existentes entre os seus líderes militares e paramilitares eclodiram na capital, Cartum, e se estenderam a outras regiões, incluindo a vasta região ocidental de Darfur.

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