A agência de saúde da União Africana (UA) anunciou hoje que enfrenta uma escassez de recursos para fazer face ao aumento dos surtos de doenças infecciosas em África, bem como uma escassez de vacinas contra o Monkeypox (mpox).
"Por um lado, enfrentamos numerosos surtos e, por outro, não temos recursos suficientes", disse o diretor-geral dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças em África (CDC África), John Kaseya, numa conferência de imprensa 'online'.
"Por enquanto, estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para descentralizar a capacidade laboratorial, reforçar a abordagem comunitária e melhorar a recolha e o transporte de amostras. No entanto, não podemos fazer tudo o que queremos fazer sem segurança e recursos adequados", observou Kaseya.
Nas últimas semanas, os CDC África denunciaram o impacto do congelamento temporário da ajuda internacional ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, que se traduziu num corte significativo no financiamento da agência.
Kaseya lembrou ainda que o conflito no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) está a dificultar os testes de mpox, o que levou a uma tendência decrescente do número de casos confirmados, que, alertou, pode não refletir a situação real no país.
Assim, desde o início de 2025, foram notificados 27.227 casos (6.666 confirmados em laboratório) e 283 mortes por mpox em África.
Segundo Kaseya, 16 dos 23 países que registaram surtos estão na chamada "fase ativa", incluindo a RDCongo, nação vizinha de Angola, que continua a ser o epicentro da epidemia com 80.828 infeções (16.434 confirmadas em laboratório) e 1.623 mortes, enquanto outros sete estão na "fase de controlo".
"Este é o nosso apelo aos líderes para que garantam a estabilidade na região o mais rapidamente possível e procurem todas as formas possíveis de apoiar a resposta, incluindo o fornecimento de vacinas", apelou o chefe da agência de saúde da UA.
O responsável instou ainda os parceiros que se comprometeram a fornecer vacinas e recursos aos CDC África a "não interromperem o seu apoio, uma vez que se trata de uma intervenção crucial para salvar vidas".
Kaseya informou que visitou o Canadá e os EUA há duas semanas para discutir o futuro da ajuda global à saúde em África e disse que os ministros da saúde africanos se reunirão sexta-feira, 14 de março, para abordar a questão, bem como possíveis alternativas para garantir um financiamento sustentável no continente.
"Os CDC África estão a tomar medidas políticas e estratégicas proativas para unificar os países do continente face a estes desafios", sublinhou.
O diretor-geral anunciou também que os CDC África, em colaboração com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), irão organizar uma mesa redonda em abril com os ministros das finanças e da saúde dos países destas organizações.
A mesa redonda, que ocorrerá em Washington, nos EUA, procurará discutir mecanismos para garantir um financiamento estável da saúde em África.
A agência de saúde da UA declarou o mpox uma emergência de saúde pública de segurança continental em 13 de agosto de 2024 e, no dia seguinte, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou um estado de alerta sanitário internacional para a doença, uma medida que a OMS também decidiu prolongar.
O mpox é uma doença infecciosa que pode provocar uma erupção cutânea dolorosa, gânglios linfáticos inchados, febre, dores de cabeça, dores musculares, dores nas costas e falta de energia.
Desde o início de 2024, foram registados em 22 países cerca de 98.000 casos (mais de 22.000 confirmados em laboratório) e mais de 1.700 mortes em todo o continente africano.