Um grupo de pouco mais de uma dezena de mulheres manifestou-se hoje defronte do Hospital Provincial da Matola, em Maputo, sul de Moçambique, contra alegados "maus-tratos" e "negligência médica" durante o parto naquela unidade hospitalar.
"Estamos indignadas com os maus-tratos, roubo dos nossos bebés, retirada dos nossos úteros sem o nosso consentimento", disse à Lusa Lodovina Michel, ativista da Organização de Mulheres Resilientes, que liderou a manifestação.
Trajadas de capulanas (tecido tradicional), roupas pretas, com apitos e uma boneca nos braços, as mulheres entoaram hinos e empunharam cartazes, com mensagens críticas ao Hospital Provincial da Matola por alegada violência obstétrica, havendo já pelo menos um caso em julgamento no tribunal de Maputo envolvendo aquela unidade.
As mulheres pedem o fim da violência, num recado às parteiras e aos médicos do hospital provincial, após vários casos relatados nas redes sociais, sendo o mais popular o "caso Leila", uma mulher que teve o útero retirado após um parto de cesariana, no qual o bebé foi dado como morto, mas o corpo nunca chegou a ser entregue à família.
O julgamento do caso Leila começou em 19 de fevereiro, escreveu na sua página do Facebook Quitéria Guirengane, ativista social e que acompanha o caso, pedindo "justiça".
"Estará em julgamento não o caso Leila, mas mais uma vez a possibilidade de o cidadão confiar no Ministério Público, como o guardião da legalidade, e nos tribunais, como casa da justiça. É perigoso a justiça falhar com Leila. Justiça para Leila é um passo para justiça por todos e todas nós", escreveu a ativista.
Lodovina Michel relatou também o caso de uma mulher que terá “passado mal” após os médicos terem esquecido algodão dentro do seu corpo, durante a operação para o parto, situação que não lhe permitiu juntar-se às outras mulheres para se manifestar hoje.
“Eu tenho uma cunhada que não conseguiu vir aqui porque não está em condições. Foi operada e esqueceram lá algodões e ela passou muito mal com isso (…). Nós estamos aqui a exigir que as parteiras e as médicas nos tratem bem, porque nós é que geramos as médicas, os enfermeiros e todos que estão ali dentro”, disse à Lusa a ativista.
Uma outra mulher, também manifestante, queixou-se de as terem impedido de entrar no hospital para "falar com as parteiras", referindo que só estavam na instituição para "exigir os seus direitos".
"Hoje nos tiram os úteros. Porque é que nos tiram os úteros sem o nosso consentimento? Não pode, estamos cansadas, basta", disse a mulher.
A manifestação à porta do Hospital Provincial da Matola foi marcada também pela presença de um contingente policial.
"Tiramos as blusas e ficamos com as mamas de fora e dissemos que não íamos recuar", acrescentou Ludovina Michel, referindo que as mulheres conseguiram, depois, reunir-se com a direção do Hospital Provincial da Matola, que prometeu investigar os casos.
"Avisamos que voltaríamos e em número maior se tivermos outros casos de violência obstétrica naquele hospital", concluiu a líder da Organização das Mulheres Resilientes.
De acordo com o censo populacional de 2017, o rácio de mortes maternas é de 452 por 100.000 nados vivos, o que continua a colocar Moçambique entre os países onde as mulheres têm maior risco de morte durante a gravidez, parto e período pós-parto.