A Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) pediu hoje às autoridades “mudanças urgentes” nas políticas relativas ao tratamento da obesidade, alertando que os sistemas “estão a falhar” no combate a esta doença que atinge 15,9% da população em Portugal.
A APDP apelou a todas as entidades de saúde para que repensem as medidas para o tratamento da obesidade, tendo em conta a informação científica disponível e o impacto da doença na saúde pública.
Essas medidas passam pela comparticipação do tratamento da obesidade, combate ao estigma associado a esta doença crónica, e à mudança do atual “ambiente obesogénico”, que potencia ou promove comportamentos menos saudáveis, através de intervenções que envolvam a indústria alimentar, a publicidade e os media, defende a associação em comunicado.
"A obesidade é uma doença crónica que requer uma abordagem integrada e multidisciplinar, mas ainda há muito estigma associado. Durante muito tempo, as respostas à crise da obesidade centraram-se apenas nas pessoas. É altura de mudar o foco para os sistemas que estão a falhar”, alertou Carolina Neves, endocrinologista da APDP, citada em comunicado.
Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Obesidade, a especialista defende que a pessoa obesa tem “o direito a ser tratada como qualquer outro doente crónico, beneficiando de novos fármacos que podem mudar o curso da doença evitando complicações futuras, e isso não invalida a necessidade de políticas mais eficazes na mudança ambiental e prevenção desta pandemia".
Para Carolina Neves, é fundamental continuar a trabalhar em conjunto com as autoridades de saúde para garantir que os doentes tenham acesso às melhores opções de tratamento disponíveis, incluindo terapias farmacológicas quando clinicamente indicadas.
A APDP realça que a comparticipação do tratamento da obesidade é uma medida essencial para garantir o acesso equitativo aos cuidados de saúde e reduzir o impacto da doença na saúde pública.
Cita estudos recentes que têm demonstrado que estes medicamentos, além de promoverem a perda de peso, também têm benefícios significativos na prevenção e tratamento de outras doenças associadas à obesidade, como a doença hepática e a síndrome da apneia obstrutiva do sono.
“Dispomos de evidência robusta que demonstra que o tratamento farmacológico da obesidade reduz em 20% o risco de morte cardiovascular e eventos cardiovasculares em pessoas com excesso de peso ou obesidade sem diabetes e com histórico prévio de eventos cardiovasculares”, elucida.
“Este dado e ainda a demonstrada redução de 19% na mortalidade por todas as causas e de 18% na insuficiência cardíaca justificam a comparticipação destes fármacos”, sustenta.
A obesidade é uma doença complexa e multifatorial que afeta cerca de dois milhões de pessoas adultas em Portugal, um valor que aumenta para 67,6% da população quando somadas as pessoas com excesso de peso.
“Apesar da sua gravidade, a obesidade continua a ser frequentemente desvalorizada e estigmatizada, o que dificulta o acesso equitativo a terapêuticas eficazes”, salienta a APDP.
O presidente da associação, José Manuel Boavida, realçou a importância de a obesidade ser "encarada como a doença crónica que é, que requer tratamento e acompanhamento médico adequados".