As autoridades da Faixa de Gaza anunciaram hoje que a campanha de vacinação contra a poliomielite será retomada no sábado, com o objetivo de vacinar mais de 590 mil crianças com menos de 10 anos.
O Ministério da Saúde de Gaza, tutelado pelo movimento extremista palestiniano Hamas, afirmou num comunicado publicado na rede social Facebook que a campanha de vacinação será reativada devido aos vários desafios sanitários e ao “risco do regresso de doenças que se pensava terem sido erradicadas, incluindo a poliomielite, cuja presença continua a ser registada nas águas residuais”.
A campanha será realizada durante um período inicial de três dias, “com a possibilidade de ser prolongada por mais dois dias”, em coordenação com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos (UNRWA).
O ministério sublinhou ainda que a campanha terá lugar em todas as zonas do enclave e em todos os centros de saúde e hospitais, e que serão também organizadas equipas móveis para chegar às “zonas remotas” de modo a vacinar as crianças com menos de 10 anos que residem nessas zonas, no âmbito do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em vigor desde 19 de janeiro.
A OMS confirmou também que a campanha visa vacinar “mais de 591.000 crianças com menos de 10 anos” e acrescentou que a mesma “surge após a recente deteção do poliovírus em amostras de águas residuais em Gaza, o que aponta para uma circulação ambiental ativa que coloca as crianças em risco”.
“Grupos de pessoas com baixa ou nenhuma imunidade dão ao vírus a oportunidade de se espalhar ainda mais e potencialmente causar doenças”, alertou a agência da ONU, salientando que “a situação atual em Gaza, incluindo a superlotação nos abrigos e danos severos à água, saneamento e infraestrutura de higiene, facilita a transmissão fecal-oral e cria as condições ideais para uma maior propagação do poliovírus”.
A este respeito, a organização apontou que “o grande movimento populacional resultante do atual cessar-fogo é suscetível de exacerbar a propagação da infeção pelo poliovírus”, e recordou que as duas rondas anteriores de vacinação, que ocorreram em setembro e outubro de 2024, alcançaram 95% população-alvo.
A OMS recordou igualmente que os “desafios significativos” de acesso a certas áreas, em especial ao norte de Gaza, significaram que cerca de 7.000 crianças não foram vacinadas durante a segunda ronda de vacinação e sublinhou que “o atual cessar-fogo significa que os profissionais de saúde terão agora um acesso consideravelmente melhor” a essas zonas.
Segundo a organização, não foram confirmados novos casos de poliomielite até ao momento, para além do caso de um bebé de 10 meses em agosto de 2024.
Ainda assim, as amostras recolhidas em dezembro de 2024 e janeiro de 2025 em Deir al-Bala e Khan Yunis “confirmam que há transmissão do poliovírus”, que pertence à estirpe detetada em julho do ano passado em Gaza.
“As vacinas contra a poliomielite são seguras e não existe um número máximo de vezes que uma criança deve ser vacinada. Cada dose proporciona a proteção adicional necessária durante um surto ativo de poliomielite”, afirmou a OMS, congratulando-se com o acordo de cessar-fogo e apelando a que este conduza a uma paz “duradoura” na Faixa de Gaza.