“Eles estão a fazer aqui o que fizeram em Gaza”, lamenta Ahmed Ezzat, ao fugir hoje, com dezenas de famílias palestinianas, do campo de refugiados de Nour Chams na Cisjordânia ocupada, alvo de uma operação militar israelita de envergadura.
No segundo dia da operação, homens, mulheres e crianças, alguns com pequenos objetos, abandonaram a pé, apor ruas lamacentas e sob chuva, este campo no norte da Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967.
Simultaneamente, vários bulldozers destruíam equipamentos coletivos e vias de comunicação, com tiros e explosões a ouvirem-se, testemunhou um correspondente da AFP no local.
Os militares israelitas lançaram esta operação em Nour Chams, no quadro de uma vasta operação em curso desde janeiro, nos campos vizinhos de Tulkarem e Jénine.
No domingo, duas palestinianas, uma das quais grávida de oito meses, e um jovem palestiniano foram mortos em Nour Chams, informou a Autoridade Palestiniana.
“Ouvimos as explosões e os bombardeamentos e vimos os bulldozers. É uma tragédia. Eles estão a fazer aqui o que fizeram em Gaza”, testemunhou Ahmed Ezzat, um habitante, ao sair do campo.
Outro habitante contou que tinha sido obrigado a sair do campo pelos militares, que estavam a destruir as casas dos palestinianos.
Segundo Mourad Alyan, do comité popular do campo, “mais de metade dos 13 mil habitantes fugiram por medo de morrerem”.
Desde 21 de janeiro que os militares israelitas fazem operações no ‘triângulo’ de Jénine, Toubas e Tulkarem, onde vivem meio milhão de palestinianos, afirmando que estão a atacar “infraestruturas e combatentes terroristas”.
O autarca palestiniano de Toubas, Ahmad al-Assaad, disse à AFP que o que os palestinianos estão a viver “é inédito”.
Como disse, “as operações israelitas não visam combatentes, mas civis, mulheres e crianças e fizeram explodir casas, para obrigar os habitantes a partirem”.
O governador de Tulkarem, Abdallah Kamil, assegura que o objetivo das operações militares “não é securitário, mas político”, uma vez que, justificou, “eles (Israel) destroem tudo. Eles querem modificar a demografia da região”.
A Autoridade Palestiniana acusa Israel de “aplicar na Cisjordânia ocupada a mesma política de destruição” da Faixa de Gaza, devastada ao fim de 15 meses de bombardeamentos e ataques.
Para a organização não governamental israelita B’Tselem, “Israël está a fazer uma guerra total ao povo palestiniano”.