Um polícia que devia integrar uma equipa de vacinação contra a poliomielite no noroeste do Paquistão foi morto a tiro hoje pelos talibãs paquistaneses, disse a polícia local.
O crime ocorreu no mesmo dia em que foi lançada uma campanha de vacinação contra a poliomielite a nível nacional.
O Paquistão, país com 240 milhões de habitantes, registou um aumento do número de infeções em 2024 mas devido aos frequentes atentados contra a segurança dos vacinadores o processo está a atrasar a erradicação da doença, endémica no Paquistão e no Afeganistão.
Islamabade registou 73 novos casos de poliomielite em 2024, e um primeiro caso foi detetado no início de janeiro na província montanhosa de Pakhtunkhwa, na fronteira com o Afeganistão, onde ocorreu o assassinato do polícia.
Hoje, "dois homens numa mota dispararam contra um agente da polícia local que se dirigia para se juntar a uma equipa de proteção dos vacinadores contra a poliomielite na zona de Jamrud", disse à France Presse Zarmat Khan, agente da polícia.
"O agente morreu no local, mas a campanha contra a poliomielite continua na zona", acrescentou.
Outro agente da polícia, Abdul Hameed Afridi, confirmou o ataque e disse à France Presse que "foi iniciada uma investigação".
O movimento talibã paquistanês (TTP) reivindicou a responsabilidade pelo ataque que disse ter sido seletivo.
A província de Pakhtunkhwa está a enfrentar o aumento dos ataques dos talibãs paquistaneses, treinados para combater no Afeganistão e que afirmam partilhar a mesma ideologia do regime no poder em Cabul desde agosto de 2021.
No início de novembro, sete pessoas, incluindo cinco raparigas, foram mortas num atentado à bomba contra agentes da polícia que protegiam uma campanha de vacinação contra a poliomielite no sudoeste do país.
Os repetidos ataques levaram a uma greve do corpo policial em setembro do ano passado.
De acordo com o Centro de Investigação e Estudos de Segurança de Islamabade, 2024 foi o ano mais mortífero em quase uma década no Paquistão.
No total, mais de 1.600 pessoas foram mortas em ataques, incluindo 685 membros das forças de segurança.
Por outro lado, Islamabade, com a ajuda de doadores internacionais, espera vacinar 45 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade contra a poliomielite.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para imunizar as zonas afetadas, 90% das crianças devem ser vacinadas.
Uma falsa campanha de vacinação organizada pelos serviços de informações norte-americanos (CIA) para localizar o líder da Al Qaeda e mentor dos ataques de 11 de setembro, Osama bin Laden, morto em 2011 no norte do país, gerou uma desconfiança persistente.
Esta desconfiança é também promovida por clérigos ultraconservadores que espalham regularmente rumores de que as vacinas causam infertilidade ou contêm carne de porco ou álcool, que são proibidos pelo Islão.
Nos últimos anos, apesar de um ressurgimento em 2019 e 2020, o Paquistão estava praticamente a acabar com a doença após os limites de 20 mil casos por ano na década de 1990.
O número de infeções começou recentemente a aumentar novamente: 73 em 2024, em comparação com seis em 2023.
A poliomielite é uma doença infecciosa causada pelo poliovírus e que pode provocar à paralisia.
No domingo, para inaugurar a campanha de 2025, o primeiro-ministro Shehbaz Sharif reconheceu um "grande revés".
"Temos de erradicar a poliomielite a todo o custo", insistiu.
Hoje, após o ataque talibã, o gabinete do chefe do Executivo emitiu uma nova declaração:
"A campanha contra a poliomielite vai continuar com o mesmo vigor", afirmou.