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Teorias antivacina e oposição ao aborto dominam audição do nomeado de Trump para Saúde

Lusa
29-01-2025 18:39h

A audição no Senado norte-americano para a confirmação de Robert F. Kennedy Jr. para a liderança do Departamento de Saúde foi hoje marcada pelas suas teorias antivacinação e pela disposição para restringir o acesso ao aborto no país.

Na audição perante o Comité de Finanças do Senado (câmara alta do Congresso norte-americano), Kennedy Jr., membro de uma das mais influentes famílias democratas do país e que se tornou o cético mais proeminente dos Estados Unidos em relação às vacinas, teve as suas declarações públicas escrutinadas pelos senadores, incluindo as teorias conspiratórias que difundiu sobre a pandemia de covid-19.

Kennedy Jr. negou hoje ser antivacinas, advogando que todos os seus filhos são vacinados.

 Contudo, esse foi precisamente um dos pontos que a sua prima e única filha do ex-presidente John F. Kennedy, Caroline Kennedy, levantou numa carta em que se opôs à confirmação do nomeado por Trump, descrevendo Kennedy Jr. como um "hipócrita" por vacinar os seus filhos enquanto, ao mesmo tempo, lucrava com a amplificação dos medos sobre vacinas em muitos pais.

“Dizem algumas notícias que eu sou antivacina ou anti-indústria. Não sou nenhum dos dois”, declarou Kennedy Jr., sendo imediatamente interrompido por uma mulher na plateia que gritou: "Ele está a mentir", tendo sido escoltada para fora da sala.

“Acredito que as vacinas desempenham um papel fundamental nos cuidados de saúde”, acrescentou o sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, que no passado argumentou que nenhuma vacina é segura ou eficaz, desencorajando a administração das mesmas.

Nos últimos 20 anos, em várias aparições públicas, o nomeado por Trump para a pasta da Saúde fez alegações infundadas de que as vacinas são inadequadamente testadas e alegou que as vacinas contra gripe e poliomielite aumentam a suscetibilidade a futuras estirpes de gripe e casos de poliomielite. Alegou ainda que as vacinas fazem as pessoas "perderem QI [Quociente de Inteligência]" e disse que a "narrativa dominante" sobre vacinas tem "poucas provas".

Na audição de hoje, Kennedy Jr. tentou ainda tranquilizar os políticos mais conservadores sobre a sua posição sobre o aborto, dizendo que concorda com o Presidente Trump e que "os estados devem controlar o aborto".

"Eu concordo com o Presidente Trump que todo o aborto é uma tragédia. Eu concordo com ele que não podemos ser uma nação moral se tivermos 1,2 milhões de abortos por ano. Eu concordo com ele que os estados devem controlar o aborto”, respondeu Kennedy a uma questão levantada pelo senador republicano James Lankford.

Robert F. Kennedy Jr. concorreu às eleições presidenciais de novembro passado como um candidato “pró-escolha” e prometeu manter o Governo fora das decisões reprodutivas das mulheres, mas, nos últimos meses, tem demonstrado uma maior disposição para deixar o Governo restringir as interrupções da gravidez.

O senador Bernie Sanders confrontou Kennedy Jr. em relação às suas mudanças no apoio ao aborto. 

 “Eu nunca vi nenhum político importante mudar de ideias sobre essa questão tão rapidamente como você fez quando Trump lhe pediu para se tornar secretário do Departamento de Saúde dos Estados Unidos”, afirmou Sanders.

“Diga-me: porque é que você acha que as pessoas deveriam confiar na sua consistência e no seu trabalho quando você realmente fez uma grande reviravolta numa questão dessa importância?”, indagou ainda o senador do Vermont.

Como secretário de Saúde, Kennedy Jr. supervisionaria as agências que regulam a pílula abortiva e rastrearia dados sobre abortos.

Na audição, Robert F. Kennedy Jr. garantiu que Donald Trump lhe pediu para reavaliar a segurança do Mifepristona, uma pílula abortiva usada nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.

“O Presidente Trump pediu-me para estudar a segurança da Mifepristona. Ele ainda não tomou uma posição sobre como regular isso. (...) Implementarei essas políticas e trabalharei com este comité para fazer com que essas políticas façam sentido”, afirmou.

A democrata Maggie Hassan, de New Hampshire, foi outra das senadoras que atacou Robert F. Kennedy Jr. pelas suas mudanças de posição sobre os direitos reprodutivos.

“É notável que você tenha um histórico tão longo de luta pela liberdade reprodutiva das mulheres e é realmente ótimo que os meus colegas republicanos estejam tão abertos a votar num secretário de Saúde pró-escolha”, ironizou Maggie Hassan.

O tom da audição foi marcado por perguntas de senadores republicanos sobre nutrição e doenças crónicas, enquanto os democratas insistiram nas opiniões de Kennedy sobre vacinas e aborto, considerando o indicado por Trump como não merecedor de confiança e inapto para o cargo.

A sua nomeação para liderar o Departamento de Saúde tem sido altamente controversa, o que torna a sua futura confirmação no Senado uma das mais complicadas para o Governo de Trump.

Uma sondagem hoje divulgada pela agência noticiosa Associated Press (AP) - NORC revela que apenas três em cada 10 norte-americanos confiam na nomeação de Robert Kennedy Jr. para secretário da Saúde.

Mas a mesma sondagem mostra que nem todos os seus controversos objetivos de saúde são impopulares e que algumas das suas causas têm um amplo apoio entre eleitores democratas e republicanos.

Embora muitos norte-americanos discordem de algumas das posições controversas de Kennedy sobre a saúde — incluindo as suas ideias em torno da reavaliação das recomendações de vacinas infantis e as alterações nas diretrizes sobre o flúor na água potável ou no consumo de leite não pasteurizado - algumas das suas outras posições, como a reformulação de alimentos processados, são amplamente populares.

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