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Contaminação por chumbo pode ter reduzido o QI no Império Romano - Estudo

Lusa
07-01-2025 00:55h

A extração de chumbo durante a época romana expôs a população a elevados níveis de exposição a este metal e, no caso das crianças, pode ter provocado declínios cognitivos generalizados entre 2,5 e 3 pontos de QI.

Um novo estudo liderado pelo Desert Research Institute (EUA) e publicado pela revista PNAS baseou-se em registos de núcleos de gelo do Ártico e em modelos de aerossóis atmosféricos para estimar as concentrações e o possível impacto na saúde do chumbo no ar europeu, durante o apogeu do Império Romano, a chamada Pax Romana, noticiou na segunda-feira a agência Efe.

Os registos históricos e arqueológicos indicam que as populações europeias na época romana apresentavam elevados níveis de exposição ao chumbo, entre outras coisas devido à poluição atmosférica associada à mineração e fundição em grande escala de minérios de prata e chumbo.

A exposição ao chumbo é responsável por uma série de efeitos na saúde humana e mesmo níveis relativamente baixos afetam o desenvolvimento cognitivo das crianças.

A equipa examinou três registos de gelo para determinar os níveis de contaminação por chumbo no Ártico entre 500 a.C. e 600 d.C., período que vai desde a ascensão da República Romana até à queda do Império Romano, com foco nos cerca de 200 anos do apogeu deste último.

Os isótopos de chumbo permitiram à equipa identificar as operações de mineração e fundição em toda a Europa como a provável fonte de contaminação durante este período.

A modelação computacional avançada do movimento atmosférico também produziu mapas dos níveis de poluição atmosférica por chumbo em toda a Europa.

Segundo a investigação, durante o apogeu de quase 200 anos do Império Romano, foram libertados mais de 500 quilotoneladas de chumbo para a atmosfera.

A análise indicou que as emissões europeias de chumbo aumentaram acentuadamente por volta de 15 a.C., após a ascensão do Império Romano, permaneceram elevadas até ao declínio da Pax Romana, que começou por volta de 165 d.C., e não foram ultrapassadas até ao início do segundo milénio d.C.

Com base em estudos epidemiológicos modernos, os autores estimaram que a poluição atmosférica por chumbo durante a Pax Romana teria provocado um aumento médio dos níveis de chumbo no sangue durante a infância de cerca de 2,4 microgramas por decilitro.

Esta exposição ao chumbo na infância terá provocado, segundo os autores, declínios cognitivos generalizados entre 2,5 e 3 pontos de QI (quoficiente de inteligência) em todo o Império Romano.

“O chumbo é conhecido por ter uma vasta gama de efeitos na saúde humana, mas decidimos focar-nos no défice cognitivo porque é algo que podemos atribuir a um número”, explicou o coautor do estudo, Nathan Chellman.

Uma redução do QI de 2 para 3 pontos “não parece grande coisa, mas se for aplicada a toda a população europeia, é um grande problema”, acrescentou Chellman, num comunicado divulgado pelo Desert Research Institute.

Nos adultos, níveis elevados de exposição ao chumbo estão associados a infertilidade, anemia, perda de memória, doenças cardiovasculares, cancro e redução da resposta imunitária, entre outros efeitos.

Nas crianças, mesmo os baixos níveis de exposição têm sido associados a uma redução do QI, a problemas de concentração e a um menor sucesso académico.

“Este é o primeiro estudo a obter um registo de poluição de um núcleo de gelo e invertê-lo para obter concentrações atmosféricas de poluição e depois avaliar os impactos humanos”, observou o principal autor do estudo, Joe McConnell, citado no comunicado.

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