O cancro do pâncreas deverá ser a segunda doença oncológica mais mortífera em Portugal até 2035, com mais de 2.000 óbitos por ano, alertou hoje um especialista.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022 foram registadas 2.086 mortes no país devido a cancro do pâncreas, sendo a quinta causa de mortalidade por doença oncológica.
Os dados de 2022 indicam que o cancro que causa mais mortes é o do pulmão (5.077), seguido do colorretal (4.809), do estômago (2.578) e da mama (2.578).
No âmbito do Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, que se assinala hoje, o presidente do Clube Português do Pâncreas, Eduardo Rodrigues Pinto, disse à agência Lusa que têm sido feitos “alguns avanços em termos investigacionais” para detetar o cancro pâncreas numa fase mais precoce, mas tem havido um aumento da incidência.
“Tem havido um aumento desta incidência e, por isso, pensa-se que em 2035 venha a ser a segunda causa de morte [por cancro] com mais de 2.000 mortos anuais. São estas as perspetivas menos favoráveis que nos levam a tentar alertar a população que existem para tentar prevenir ou, quando não for prevenível, tentar diagnosticá-lo em estádio mais precoces”, salientou.
De acordo com Eduardo Rodrigues Pinto, as pessoas com cancro do pâncreas “são doentes complexos” que “devem ser geridos em hospitais com equipas multidisciplinares”.
“Os hospitais, atualmente, são estratificados como centros de referência e, portanto, este tipo de patologia deve ser tratado em centros de referência. Esses centros de referência incluem gastroenterologistas, cirurgiões, oncologistas e radiologistas. Tudo especialistas que se dedicam a este tipo de patologia”, realçou.
À Lusa, o médico especialista em Gastrenterologia explicou que “apenas 20% dos doentes” se enquadram para “fazer um tratamento curativo” através de cirurgia.
“Todos os outros serão, idealmente, candidatos a um tratamento com quimioterapia ou com radioterapia, sendo que, sempre que possível, os doentes devem ser incluídos em ensaios clínicos. No entanto, deve-se tentar ver novas terapêuticas que estejam em desenvolvimento para tentar ver se são mais adequadas ou não a cada doente”, indicou.
Eduardo Rodrigues Pinto lembrou que o cancro do pâncreas surge sobretudo em pessoas entre os 60 e os 70 anos, avisando que “se tem verificado cada vez mais um maior número de diagnósticos em pessoas mais novas”, entre os 40 e os 50.
“Tem havido alguns avanços em termos investigacionais, como biomarcadores para detetar o cancro do pâncreas em fase mais precoces. Idealmente, no futuro, deveríamos ter um exame de sangue que permitiria este diagnóstico. Em termos dos tratamentos, os avanços têm sido na personalização do tratamento ao doente, através da realização de pesquisas de mutações específicas de cada tumor, em que depois direcionamos os nossos tratamentos ao tipo de mutação que cada doente apresente”, referiu.
Ao contrário do cancro do intestino, em que há programas de rastreio instituídos, através de colonoscopia, no pâncreas não existem recomendações de rastreios universais.
No entanto, na opinião do clínico, esses programas de rastreio poderão ser considerados em grupos de risco específicos, que têm um risco aumentado de cancro de pâncreas em relação à população geral.
Entre os fatores de risco, o tabagismo é o principal, seguido da obesidade. O consumo de álcool, sobretudo em doentes com pancreatite crónica, diabetes mellitus, a dieta rica em gorduras e carne vermelha, ou o sedentarismo também estão associados à doença.
“Tudo isto são fatores de risco que devemos tentar explicar e educar à população, no sentido de as pessoas mudarem os seus estilos de vida”, acrescentou.