O Estado de Rakhine, um dos mais pobres de Myanmar (antiga Birmânia), está "à beira de uma catástrofe sem precedentes", alertou na quinta-feira a ONU, apontando em particular os mais de 2 milhões de habitantes ameaçados pela fome.
"Está à beira de uma catástrofe sem precedentes. Está a formar-se uma tempestade devido a um conjunto de elementos interligados" que correm o risco de empurrar uma população já "muito vulnerável" para o "colapso nos próximos meses", pode ler-se, num relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Com base em dados recolhidos em 2023 e 2024 e em entrevistas a vários intervenientes (sociedade civil, setor privado ou ONG), o relatório descreve uma economia que "deixou de funcionar, com setores críticos como o comércio, a agricultura, a construção quase numa paralisação".
Esta situação está particularmente ligada às restrições à entrada de mercadorias no Estado - provenientes do resto do país e do vizinho Bangladesh -, ou à redução da produção agrícola, num contexto de escalada de combates entre grupos étnicos rebeldes e a junta no poder desde 2021.
O Estado de Rakhine "poderá enfrentar uma fome aguda iminente", insistiu o PNUD, que estima que a produção alimentar local só será capaz de cobrir 20% das necessidades até março/abril de 2025.
A produção de arroz colapsa (282 mil toneladas em 2023, cobrindo 60% das necessidades da população; projeção de 97 mil toneladas em 2024, suficientes para 20% da população) e, ao mesmo tempo, o comércio deste produto alimentar básico está "praticamente paralisado".
A situação representa uma ameaça para "mais de dois milhões de pessoas de fome", entre cerca de 2,5 milhões de habitantes e deteriorou-se particularmente desde novembro de 2023, quando a ofensiva de grupos étnicos minoritários (incluindo o Exército Arakan, sendo Arakan o antigo nome de Rakhine) contra o Exército birmanês se estendeu ao Estado de Rakhine, observou o PNUD.
Entre esta data e julho de 2024, o preço do arroz disparou, por exemplo +944% na cidade de Maungdaw, ou +404% na capital Sittwe.
Assim, "sem ações urgentes, 95% da população encontrar-se-á em modo de sobrevivência", e com as rotas comerciais e humanitárias fechadas, o Estado "corre o risco de se tornar uma zona totalmente isolada de profundo sofrimento humano", garantiu o PNUD.
Este organismo está preocupado com certas populações particularmente vulneráveis, nomeadamente os Rohingya, uma minoria muçulmana apátrida e perseguida, bem como com as populações deslocadas.
De acordo com a ONU, o Estado de Rakhine tinha 511 mil pessoas deslocadas em agosto de 2024, em comparação com 196 mil em outubro de 2023.