O Governo do movimento islamita palestiniano Hamas declarou hoje que centenas de pessoas foram detidas no hospital Kamal Adwan, na cidade de Jabalia, epicentro da ofensiva do Exército israelita ao norte da Faixa de Gaza.
“As forças israelitas tomaram de assalto o hospital Kamal Adwan e encontram-se no seu interior”, indicou o Ministério da Saúde palestiniano num comunicado.
O Exército “está a deter centenas de pacientes, profissionais de saúde e pessoas deslocadas de setores circundantes que se refugiaram no hospital devido aos incessantes bombardeamentos”, acrescentou.
O hospital não recebeu quaisquer alimentos, medicamentos ou material médico de primeira necessidade, afirmou o ministério.
Por seu lado, o Exército israelita indicou num comunicado que prossegue as suas operações na zona do hospital, juntamente com os serviços de segurança, “com base em informações dos serviços secretos relativas à presença de terroristas e respetivas infraestruturas na região”.
A Defesa Civil de Gaza também informou que o Exército, que há vários dias cercava o hospital, tinha entrado no perímetro das suas instalações.
“Mais de 150 doentes e pessoal, incluindo médicos e enfermeiros, estão sob cerco do Exército no interior do Kamal Adwan”, declarou Mahmoud Bassal, porta-voz da organização.
Posteriormente, a Defesa Civil da Faixa de Gaza indicou que o seu responsável por Jabalia e um enfermeiro tinham sido detidos durante o ‘raid’ e levados para local desconhecido.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, manifestou preocupação depois de ter hoje perdido o contacto com a equipa do hospital, o último em funcionamento no norte daquele território palestiniano, há mais de um ano palco de guerra.
O representante da OMS para os Territórios Palestinianos em Gaza, Rik Peeperkorn, descreveu “o caos” que reinava no hospital durante uma missão esta semana.
Na quinta-feira à noite, “os serviços de emergência estavam sobrelotados e vimos muitos pacientes chegarem com ferimentos terríveis”, enquanto centenas de pessoas se refugiavam em “todos os cantos e recantos” do hospital, descreveu a partir de Gaza, numa conferência de imprensa realizada em Genebra.
Acrescentou ter visto, num ponto de passagem do Exército israelita próximo do hospital de Kamal Adwan, “milhares de mulheres e de crianças a abandonar a zona a pé, carregando o que lhes resta dos seus pertences”, em direção à cidade de Gaza, a sul.
“Vimos muito poucos homens ou adolescentes, e os homens estavam a ser revistados”, acrescentou.
O organismo militar israelita que supervisiona os assuntos civis nos Territórios Palestinianos Ocupados (Cogat) declarou ter autorizado a transferência, na quinta-feira à noite, de cerca de 50 pessoas, 23 doentes e 26 acompanhantes.
Essas pessoas foram transportadas do hospital de Kamal Adwan para outros estabelecimentos de saúde da Faixa de Gaza em cinco ambulâncias acompanhadas por quatro veículos da ONU, precisou o Cogat.
Sublinhou também ter autorizado o fornecimento de sacos de sangue, de material médico e de combustível ao hospital, afetado pela escassez desde o início da guerra, a 07 de outubro de 2023.
A situação deteriorou-se mais ainda desde o lançamento de uma nova ofensiva terrestre no norte da Faixa de Gaza, a 06 de outubro deste ano, que fez mais de 770 mortos, segundo a Defesa Civil.
A zona é palco de intensos combates e bombardeamentos entre o Exército e os combatentes do Hamas, que, segundo o Exército, se estão a reorganizar.
O Exército começou por cercar Jabalia e apelou à população para que retirasse para sul, criando pontos de passagem para controlar os habitantes. A operação foi depois alargada à cidade de Beit Lahia, a norte, e à zona circundante.
Desde o início da operação em Jabalia, cerca de 45.000 pessoas abandonaram a região, informou hoje o Exército israelita, sublinhando ter “eliminado centenas de terroristas”.