Mais de 90% das Unidades de Saúde Familiares (USF) ficaram no último ano por mais de três vezes sem acesso às aplicações informáticas e a maioria confessa que não tem o material necessário para fazer teleconsultas.
Segundo um estudo realizado pela Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF-AN), que será hoje apresentado, em todas as USF houve problemas de acesso no último ano e, em mais de metade (55,9%), as falhas aconteceram mais de 11 vezes.
Em 18,3% dos casos registaram-se mais de 50 falhas de acesso às aplicações informáticas no último ano (26,3% em 2022/23).
De acordo com as informações prestadas por 75% dos coordenadores das USF, na maioria das vezes a resolução dos problemas ocorreu no mesmo dia, mas com “atrasos importantes”. Em 7% dos casos a resolução só ocorreu no dia seguinte e, em 4,7%, apenas 48 horas depois.
O estudo “O Momento Atual dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal”, que pretendeu caracterizar o estado da reforma dos Cuidados de Saúde Primários, refere igualmente que as indisponibilidades das aplicações informáticas perturbaram a qualidade dos cuidados prestados em quase todas (97,5%) as USF.
“Um problema crónico que demonstra a pouca resistência das aplicações a falhas de hardware ou software bem como a frágil rede de internet disponível nas unidades”, refere o documento, a que a Lusa teve acesso.
O trabalho recolheu 495 respostas de coordenadores das 656 USF existentes na altura em que o estudo foi elaborado (de 24 julho a 15 de setembro deste ano). Segundo os dados da USF-AN, a 14 de outubro existiam 665 USF B e estavam ainda ativas 28 candidaturas a USF.
A maioria dos coordenadores considera ainda que os equipamentos e programas informáticos disponibilizados não são adequados às necessidades.
Quando se perguntou se a USF possui o material necessário para teleconsultas, a maioria (59,5%) considera não ter este material. Ainda assim, “parecem existir mudanças neste contexto, com uma tendência crescente da percentagem de USF que considera que este material se encontra adequado desde 2021/22”, refere o estudo.
Quase três em cada quatro coordenadores (71,6%) continua a preferir consultas presenciais relativamente às consultas à distância, embora numa percentagem inferior à registada nos últimos três estudos (79,8% em 2022/23; 77% em 2021/22; e 79,1% em 2020/21).
Dos que responderam às questões lançadas pela USF-AN, cerca de 6,7 % prefere um sistema que privilegia as consultas à distância (uma ligeira subida face aos 5,6% do estudo anterior) e 21,7% opta por um modelo híbrido equilibrado (com consultas presenciais e consultas à distância em igual proporção).
A maioria diz-se insatisfeita com os recursos materiais clínicos disponibilizados e mais de metade (56%) aponta a falta de adequação de equipamentos clínicos como esfigmomanómetros, otoscópios, balanças, frigoríficos e termómetros.
Quanto à possibilidade de realizar análises rápidas na Unidade de saúde, apenas 5,3% responderam que existem e são adequados na sua USF.
Já em relação ao número de profissionais previstos nas equipas, os dados mostram que a situação tem vindo a melhorar desde 2020/21, ainda que, em média, continue a faltar um de cada grupo profissional nas USF em relação ao que estava acordado.
Esta carência assume uma maior expressão nos médicos, seguidos do grupo dos secretários clínicos e dos enfermeiros.
Ainda quanto aos recursos humanos, em 61,2% (67,8% no biénio anterior) das USF o trabalho realizado para além do horário oficial para responder às necessidades da população não é considerado para compensação futura.
No último ano, em 82,3% das USF houve pelo menos um profissional ausente mais de 30 dias, sendo que em 86,9% dos casos a substituição foi assegurada pelos profissionais da equipa, resultando em “maior sobrecarga” de trabalho.