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Internistas entregam documento à ministra com propostas para aumentar atratividade da especialidade

LUSA
17-10-2024 12:46h

Médicos internistas entregaram um documento à ministra da Saúde com propostas para aumentar a atratividade da Medicina Interna, numa altura em que se aproxima o concurso para a escolha da especialidade por parte dos internos, anunciou hoje um especialista.

O documento foi elaborado por um grupo de trabalho, liderado pelo professor e internista Manuel Teixeira Veríssimo, que foi criado por protocolo entre a Sociedade de Medicina Interna (SPMI) e Ordem dos Médicos com o objetivo de impor “uma reflexão urgente” para encontrar propostas para enfrentar a diminuição da atratividade da especialidade.

No último concurso ficaram por preencher 58,1% das vagas disponíveis (144), sendo que em sete hospitais nenhuma vaga foi ocupada, e em hospitais como as unidades locais de saúde de Santa Maria e São José, em Lisboa, ficaram por preencher 24 vagas.

“Nos últimos três anos ficaram por ocupar 240 vagas de Medicina Interna. Há hospitais que há três anos não recebem nenhum interno”, alerta o grupo de trabalho, sublinhando que, sendo uma situação complexa necessita do envolvimento e compromisso de todos os intervenientes na área da saúde.

Em declarações à Lusa, o presidente da SPMI, Luís Duarte Costa, disse que os especialistas consideraram que era a altura de “dar um grito de alerta” e apresentar propostas “mais concretas para quem tem o poder de decisão”.

“Estamos num cruzamento e no meio de um furacão para a Medicina Interna. Isto porque claramente tem havido uma perda da atratividade da Medicina Interna com uma óbvia falha na escolha de novos internos para esta especialidade e é um acumular de pequenos problemas”, adiantou.

Os especialistas acreditam que “a melhor maneira dos hospitais funcionarem é que exista um internista responsável por quase todos os doentes adultos, o que implicaria uma mudança no funcionamento do departamento médico dos hospitais”.

Para atingir esse objetivo são necessários ainda mais internistas, afirmou Luís Duarte Costa, estimando que faltem cerca de 1.000 especialistas no Serviço Nacional de Saúde.

Como causas para os internos não escolherem esta especialidade, o responsável apontou o excesso de trabalho e a falta de condições de trabalho.

“As enfermarias de Medicina Interna são, na maioria dos hospitais, as que têm piores condições de alojamento, onde há menor área por cama, menos instalações sanitárias por doente, e onde o espaço reservado aos médicos para trabalharem é exíguo”, lê-se no documento, que já foi entregue à ministra da Saúde, Ana Paula Martins.

O grupo de trabalho defende que, face à carência de médicos para assegurar o normal funcionamento da urgência, todas as especialidades médicas e cirúrgicas deverão voltar a ter maior presença no serviço de urgência.

Defende igualmente que o internista deverá manter atividade regular na urgência como uma das vertentes essenciais do seu trabalho, mas o horário padrão deve ser de 12 horas semanais para poderem manter de “forma efetiva e competente as outras vertentes da sua atividade clínica”.

Para o grupo de trabalho, todos os internistas devem ter um “perfil global, generalista”, mas deve ser permitida a subespecialização e o reconhecimento de competências, bem como devem ter tempo protegido para formação e investigação.

Propõe ainda a reorganização das equipas de urgência, deixando de existir equipas “específicas fixas indiferenciadas” com horário limitado, que deixam a resolução dos problemas complexos para o internista, e a criação de incentivos que permitam a sua discriminação positiva, contrariando aquilo que tem vindo a acontecer.

Disse também que a ministra da Saúde e a Secretária de Estado da Saúde “perceberam o drama” e concordaram com os especialistas, nomeadamente na “mais-valia da Medicina Interna” e em dar “um primeiro sinal” para os internos terem uma esperança.

O médico comentou ainda que muitos internos gostam desta especialidade, mas não a escolhem porque veem a sobrecarga de trabalho nos mais velhos e o facto de nas enfermarias ficarem “com os doentes que mais ninguém quer e com casos sociais”.

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