Um projeto que visa avaliar o impacto do combate a incêndios na saúde dos bombeiros resultou num guia de boas práticas que é apresentado esta semana, numa conferência internacional, no Porto, adiantou hoje a organização.
O projeto – que teve início em 2020 e é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) com verbas estatais disponibilizadas apôs os grandes incêndios de 2017 – chama-se “4FirHealth - Firefighting occupational exposure and early effects on the health of operational forces”, em português “exposição ocupacional de combate a incêndio e efeitos precoces na saúde das forças operacionais”.
Em declarações à agência Lusa, na véspera de uma conferência internacional que quinta e sexta-feira reunirá, no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), dezenas de investigadores nacionais e internacionais, a investigadora responsável pelo projeto, Marta Oliveira, adiantou ter ficado provado que os bombeiros estão expostos a níveis agravados de toxicidade que se podem manifestar nas vias respiratórias, na pele ou mesmo na urina.
“Conseguimos mostrar que existem níveis mais elevados de alguns poluentes, matéria particulada ou compostos orgânicos, que se libertam durante a queima e no fundo. Através de ensaios encontrámos níveis mais elevados desses compostos na urina dos bombeiros, no ar (…). Os ensaios celulares mostram que existem níveis agravados de toxicidade ao nível respiratório, o que mostra a importância do uso de equipamento de proteção, importância de um bom uso aliás”, referiu.
Ao longo do projeto participaram neste estudo e nos ensaios 20 grupos de associações humanitárias do Grande Porto, bem como do Regimento de Sapadores do Porto e da Unidade Especial de Proteção e Socorro da GNR.
Destacando o “suporte e apoio” da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), Marta Oliveira avançou que na conferência será lançado um Guia de Boas Práticas “revisto por vários parceiros” e que “os próprios bombeiros pediram”.
“Estamos a falar de medidas de cariz prático a implementar na rotina do bombeiro. Rotinas que podem minimizar muito o risco para a saúde”, disse a investigadora que partilha este projeto com Francisca Rodrigues, a quem coube recolher amostras de ar, urina, e pele para analisar que poluentes se libertam nos incêndios e se mantêm presentes constituindo “elevado risco para a saúde dos bombeiros”.
No guia é aconselhado, por exemplo, que no regresso do incêndio, e se possível até antes de chegar ao quartel, o bombeiro se desequipe, algo que normalmente só acontece quando o bombeiro vai tomar banho. Evitar comer com o fato vestido é outro dos conselhos.
Além deste guia, a conferência servirá para partilhar resultados e promover a discussão entre parceiros, introduzindo em Portugal o tema do cancro na profissão de bombeiro.
“Há evidência científica mais do que suficiente que esta é uma atividade que provoca cancro. Cá esta pode ser uma conclusão chocante – podemos não estar preparados para isso – mas, a nível internacional já se discute muito a questão do cancro”, apontou Marta Oliveira.
Apelando à sensibilidade desta questão porque “há doenças ocupacionais que não são reconhecidas em Portugal”, a investigadora que foi já convidada a integrar o grupo de trabalho da Agência Internacional de Investigação para o Cancro destacou a presença na conferência do presidente da Sociedade Portuguesa da Medicina do Trabalho, Jorge Barroso Dias, bem como do presidente da ANEPC, Duarte da Costa.
Paralelamente foi criada uma rede internacional de colaboração, a plataforma “HeRA – Health Research Alliance”, que visa juntar todos os parceiros e agentes de diferentes setores ligados a esta área.
Este projeto que tem sede no ISEP, conta ainda com a colaboração da Rede de Química e Tecnologia REQUIMTE, bem como da cooperativa de Ensino Superior CESPU.