A Federação das Entidades de Reabilitação de Doentes Mentais promove na quinta-feira em Lisboa uma marcha para chamar a atenção do Governo para a necessidade de criar condições na comunidade para cuidar dos doentes, após saírem dos hospitais.
Carlos Dias Alves, presidente da federação, que reúne 26 associações de todo o país, disse à agência Lusa que são esperadas cerca de 300 a 400 pessoas na marcha que assinala o Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro).
A iniciativa “Outdoor pela Saúde Mental” começa às 10:00 no Jardim da Estrela, de onde os participantes partirão duas horas depois em direção à Assembleia da República, onde ficarão concentrados num jardim próximo ao parlamento.
“O nosso objetivo é chamar a atenção do Ministério da Saúde para a necessidade de se implementarem medidas para a recuperação das pessoas com experiência mental na sua comunidade” disse o presidente da Federação Nacional das Entidades de Reabilitação de Doentes Mentais (FNERDM).
Carlos Dias Alves defendeu que o investimento na recuperação destas pessoas e a sua reintegração na sociedade “é muito produtivo”, porque evita a sobrecarrega dos serviços de saúde.
O presidente da federação realçou que o tratamento com medicamentos “não é suficiente” para fazer a recuperação do doente, após ter alta hospitalar. “É necessário que haja na comunidade mecanismos e meios para estas pessoas retomarem a sua vida independente de acordo com as suas preferências e de acordo com os seus direitos”, afirmou.
Carlos Dias Alves relatou que após a alta hospitalar estes doentes regressam a casa, onde ficam ao cuidado de familiares, mas nem sempre esse apoio é possível.
“Há famílias monoparentais, há famílias que têm menos condições. Muitas vezes até o facto de haver uma pessoa com experiência de doença mental obriga a um progenitor, normalmente a mãe, a passar a trabalhar a meio tempo ou inclusive a deixar de trabalhar para dar assistência àquela pessoa”, alertou.
As associações apelam à tutela para que haja mais serviços para prestar apoio especializado a estas pessoas, para fazer a sua recuperação e para as reinserir na vida profissional, estudantil e social, bem como apoio à obtenção de casa quando estas perdem os pais ou adoecem e já não podem prestar apoio.
“Há doenças que são mais leves e que são recuperáveis e há outras doenças que são mais graves e de recuperação mais problemática. E, portanto, quando não há família ou quando a família não tem condições de dar apoio, é necessário que alguém tome conta destas pessoas, faça uma vigilância daquilo que se está a passar com elas”, defendeu.
O presidente da federação recordou que foi incluído um conjunto de medidas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), entre as quais a criação de 40 equipas domiciliárias.
“Todavia, nem em 2023 nem em 2024 foi criada alguma, estas coisas não avançam”, lamentou, contando que a federação já teve a oportunidade de expor a situação à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que manifestou estar muito empenhada em que Portugal saia do atraso em que está relativamente aos outros países.
“Portugal é o país mais atrasado da Europa neste domínio”, daí este “grito de alarme” das associações, para que “o Ministério da Saúde encare a saúde mental não como um parente pobre, mas como uma doença igual às outras que precisa dos seus cuidados”.