Uma greve de três dias decretada pelos sindicatos agrupados na plataforma Frente Social, iniciada hoje, “vai paralisar” os serviços nos hospitais, centros de saúde e escolas públicas da Guiné-Bissau, disse o porta-voz sindical, João Correia.
De acordo com o sindicalista, a greve, em vigor desde as primeiras horas de hoje e convocada para decorrer até quarta-feira, “é a resposta da Frente Social” aos apelos no sentido de o Governo “honrar compromissos” com os trabalhadores dos dois setores.
“É inaceitável que haja técnicos que estão a trabalhar há dois anos sem receber salário”, afirmou Yoyo João Correia, assegurando ser esta a situação “de cerca de cinco mil professores”.
O porta-voz da Frente Social defendeu que os professores “têm todo o direito de ficar em casa”, já que “não são robots”, e lembrou que na Guiné-Bissau “nunca se viu um governante a clamar por salário em atraso”.
“Não há sensibilidade dos governantes com os problemas dos trabalhadores, com os problemas do povo”, observou Yoyo João Correia, porta-voz da Frente Social que junta dois sindicatos de técnicos da saúde e outros tantos da educação.
No Hospital Nacional Simão Mendes, principal centro médico da Guiné-Bissau, a situação é desoladora com centenas de doentes a serem enviados para casa ou encaminhados para outros centros médicos e clínicas privadas.
Bubacar Sissé, chefe dos serviços de urgência do Simão Mendes lamentou que assim seja e afirmou que apenas um médico está a atender os doentes internados, “mas [apenas os que estão] em estado grave” nos serviços de ortopedia.
“Aos outros doentes simplesmente mandamos para outros hospitais ou para clínicas privadas”, frisou Sissé, que apelou ao Governo para se sentar à mesa das negociações com a Frente Social para chegarem a um entendimento.
O responsável afirmou que a greve está a afetar todos os serviços do Simão Mendes, uma situação que disse desagradar aos técnicos daquele hospital.
Nalgumas escolas de Bissau, visitadas pela Lusa, há relatos dos professores em como os alunos nem compareceram às aulas a partir do momento que ouviram nas rádios que havia greve.
Um responsável do Liceu Samora Moisés Machel disse à Lusa que, mesmo em condições normais, “às vezes os alunos não comparecem às aulas, que fará com a greve”.
Lamentou ainda as dificuldades que a paralisação poderá acarretar para o cumprimento do plano curricular do ano letivo.
Yoyo João Correia estimou que, neste momento, mais de cinco mil crianças estão sem acesso às aulas por falta de professores, que, por sua vez, não comparecem nas escolas públicas por falta de pagamento do salário.
Para Correia, não é aceitável que se diga que o Governo de iniciativa presidencial tenha apenas como foco a realização de eleições legislativas antecipadas, marcadas para 24 de novembro.
“Se o Ministério das Finanças diz que não tem dinheiro para pagar aos professores contratados, então o Governo não terá moral para chamar os professores para as salas de aula”, declarou o porta-voz da Frente Social.