Cerca de 97% das pessoas que participaram num “inquérito informal” lançado pela autarquia rejeitaram o regresso ao uso do glifosato para remoção de ervas nos espaços públicos em Coimbra, foi hoje anunciado.
Após críticas nas redes sociais sobre o estado dos passeios em Coimbra, a Câmara Municipal tinha lançado em setembro uma “auscultação popular” em que perguntava aos munícipes se preferiam “tolerar algumas ervas” nos espaços públicos, nomeadamente nos passeios, ou um regresso ao uso de glifosato, herbicida que o executivo tinha deixado de utilizar desde que assumiu o mandato, em 2021.
Os resultados dessa auscultação foram anunciados hoje pelo presidente da Câmara, José Manuel Silva, durante a reunião do executivo.
A auscultação, um formulário da Google que permitia a qualquer pessoa participar (fosse munícipe ou não), contou com 5.478 respostas, com cerca de 97% das quais a afirmar que preferiam tolerar “algumas ervas” a regressar à utilização de glifosato.
Apesar de o presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, ser contra a utilização do glifosato (a medida estava incluída no seu programa para as autárquicas), optou por avançar com o inquérito, considerando que a auscultação foi uma forma de explicar as consequências da não utilização do herbicida.
“A não utilização do glifosato e o clima de alternância entre sol e chuva aumentaram tremendamente a pressão operacional nos meses de primavera e verão, quer seja nos espaços verdes, quer seja nas ervas dos passeios e outras vias, com os resultados que são visíveis”, referiu o autarca.
José Manuel Silva vincou que os resultados mostram que “Coimbra, por razões ecológicas, não quer a utilização do glifosato”, salientando que o executivo irá continuar a trabalhar para “reforçar meios” para assegurar uma “cidade limpa e bem cuidada”.
O PS voltou a criticar a opção de o município ter avançado com um inquérito, com o vereador Hernâni Caniço a acusar o município de “transferir para os cidadãos a responsabilidade de utilização do glifosato”, herbicida considerado pela Organização Mundial de Saúde como “potencialmente cancerígeno”.
“É como se um médico deixasse ao critério do doente a medicação a tomar”, criticou o vereador, recordando declarações de José Manuel Silva, enquanto bastonário da Ordem dos Médicos, contra o glifosato.
Hernâni Caniço sublinhou que não vê o executivo a optar por formas de democracia participativa noutras questões ou temas, como a tarifa da água ou o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI).
Na resposta, o presidente da Câmara de Coimbra recordou que o PS, quando liderava o município, utilizava o glifosato, mas que agora, “na oposição, parece ser contra”.
“Falou-me do que escrevi [enquanto bastonário da Ordem dos Médicos, sobre o glifosato] em 2015 e só agora é que leu? Não leu antes? Porque não fez uma intervenção quando era deputado municipal sobre a utilização do glifosato?”, questionou José Manuel Silva.